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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A economia do país afunda, mas a agenda da política segue sequestrada pela da polícia

Minhas caras, meus caros,

Nunca foi possível, sob qualquer ponto de vista, uma anistia para os políticos implicados com lambança. Esse foi apenas um dos capítulos do braço de ferro do Ministério Público Federal com o Congresso.

A proposta que define crime de responsabilidade para juízes e membros do MP nem sequer arranha a Lava-Jato. É uma pena que aqueles que afirmam o contrário se dispensem de provar o que dizem. De todo modo, torço para que o Senado rejeite aquele texto.

O projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade, como já demonstrei, preserva os cidadãos de eventuais ilegalidades praticadas pelo Estado e, com alguns ajustes para apenas clarificar as coisas, mantém incólumes as prerrogativas de magistrados, procuradores e promotores.

A Lava Jato segue, com as leis que temos, fazendo o seu trabalho, e me parece que a tarefa agora seria apurar o que tem de ser apurado, punir quem tem de ser punido, mas tocar adiante. Ou como diz Paulo Rabelo de Castro, presidente do IBGE, em entrevista à Folha: “Precisamos articular meios que transcendam os acordos de leniência, de forma que as empresas possam ir pagando pelos seus pecados, deixando o rastro do castigo e das penas para as pessoas físicas, e liberá-las para pensar em novos investimentos.”

Transcender os acordos de leniência não implica desrespeitar seus termos, mas entender as empresas como entes que empregam pessoas. E isso em nada afetaria as responsabilizações devidas.

Mas estamos todos congelados pela agenda da polícia, que tomou a da política.

A economia brasileira, acreditem!, está indo muito mal. Alguns sopros de recuperação já se perderam. O cataclismo mesmo vai se dar com a tal lista da Odebrecht. É o que o PT espera para retomar a ofensiva. E então conheceremos, dois anos e meio depois de lançada a tese do “cartel das empreiteiras”, os seus efeitos políticos: “Como se vê, éramos todos irmãos siameses; o PT fez o que os outros faziam…”, dirão os companheiros. Será uma mentira, mas uma mentira verossímil, para a qual alertei aqui e em toda parte já em 2014.

O projeto — devidamente executado pelo PT — de assalto ao Estado deixará de ter importância. Se todos são iguais na roubalheira, a esquerda vai forçar a clivagem entre os que “estão com o povo” e os que estão “contra o povo”.

O governo entrega em breve o projeto de reforma da Previdência. Não pensem que será fácil. De novo fala o presidente do IBGE: “Vai ser muito difícil passar qualquer coisa que não seja o reajuste das idades. E se for [aprovado]. Vamos ampliar a idade de acesso ao benefício, ajustar a equação previdenciária, mas isso não é repactuar a Previdência. O que seria o certo a fazer.”

Quantos levaremos para a rua em favor da reforma da Previdência e da reforma trabalhista?

Quantos levaremos para a rua em favor de um Estado mais enxuto e mais eficiente?

Não se iludam. Ainda não pagamos o preço por todos os erros.

Isso não é pessimismo. É só realismo.

Antes da próxima manifestação contra sabe-se lá o quê. Ou a favor de.

Tanto faz.



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