O Banco Central precisa elevar os juros? Não sou economista. Respeito os que são. Mas sei ler e entendo um pouco de lógica. Respondo: não! O aumento agora só alavancaria a dívida pública, aprofundaria ainda mais a recessão e não teria efeito nenhum sobre a inflação. Seria um mero “saludo a la bandera”. Serviria apenas como um xixi no poste: “O governo não manda ninóis”. Grande coisa! O governo já não manda nem em si mesmo. Dito isso, vamos adiante.
O comando do BC estrelou uma comédia de erros em dois atos. Há duas semanas e agora. Isso demonstra que Alexandre Tombini, presidente, pode estar a precisar de férias permanentes do cargo. Em carta divulgada no dia 8 de janeiro tentando explicar os motivos do estouro da inflação, a instituição praticamente anunciou uma elevação dos juros ao afirmar que a “política monetária deve manter-se vigilante”. A mandou ver: a instituição adotará “as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas”.
A carta já tinha um quê de surrealismo para os amantes da lógica. Ao explicar as razões do estouro da inflação, o BC apontou, a meu ver corretamente, os motivos: política fiscal do governo, “realinhamento dos preços administrados” e “realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais”. Muito bem! E qual o efeito da elevação da Selic sobre ao menos um desses três fatores? Resposta: nenhum! E, no entanto, lá estava a ameaça.
O mercado passou a trabalhar com o que pareceu uma sinalização certa: os juros vão subir. E as apostas se concentram numa elevação de 0,5 ponto percentual, o que, sinceramente, me parece um delírio não da ortodoxia, mas da insanidade. Sou um liberal, sim. Não sou um fetichista. É preciso reconhecer quando o remédio certo não resolve o problema errado.
Nesta terça, o FMI soltou um relatório sobre a economia mundial. As previsões sobre o Brasil são devastadoras: o país pode ter encolhido pelo menos 3,8% no ano passado, deve encolher 3,5% neste e ter crescimento zero no ano que vem. Mais juros significa mais recessão, o que agrava o problema fiscal. Eis o círculo do capeta.
Sim, o BC estava prestes a fazer a besteira de elevar a taxa. Hoje saberemos. Em vez de Tombini ficar de bico calado, ele resolveu falar pela segunda vez. Emitiu uma nota, na véspera da decisão do Copom, dizendo que o comitê vai, sim, levar em conta as projeções do FMI. E gerou uma avalanche de críticas: a instituição que havia praticamente anunciado a elevação dos juros agora recuava.
Tombini, em suma, resolveu se meter num buraco sem saída. Querem ver por quê?
1: se não eleva a taxa — e não precisaria mesmo —, dará a entender que cedeu a pressões;
2: se a eleva em 0,25 ponto, sempre restará a suspeita de que, antes de o FMI se manifestar, a elevação seria 0,5 ponto;
3: se eleva em 0,5 ponto, vai parecer que está fazendo ouvidos moucos ao FMI e que vai adotar uma posição mais rígida justamente para deixar claro que não cede a pressões.
Dado o quadro, errou antes e errou agora. Nem deveria ter anunciado o aumento, ainda que de forma oblíqua, nem deveria ter emitido nota sobre as projeções do FMI — especialmente um dia antes da decisão do Copom.
Qualquer que seja ela agora, restará a suspeita de falta de independência: ou vai ficar parecendo que é sensível à gritaria ou vai parecer que resolveu dar uma de birrento. E, obviamente, nada disso era necessário.
Estamos diante de uma obviedade: também o BC não tem mais nada a fazer. O nó é fiscal. O ajuste pretendido por Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda, ficou no meio do caminho.
Bem, Dilma quer permanecer no governo até 2018, não é mesmo? Talvez ela tenha alguma ideia sobre o que fazer… Por enquanto, ela e seu governo só vão provocando desastres.
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