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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Lula e os petistas continuam a exigir a inimputabilidade para o poderoso chefão do partido

 

Luiz Inácio Lula da Silva, ministros do governo Dilma e a própria presidente se dedicam a um trabalho de intimidação da Polícia Federal e do Ministério Público para tentar impedir que o chefão petista seja investigado. Assim tem sido desde o início da Lava Jato.

Mas, afinal de contas, Lula é ou não é um investigado? A Força Tarefa deflagrou a 22ª fase da operação, batizada de Tiplo X. Não é preciso ser muito bidu para perceber aí o trocadilho com “tríplex”, e o tríplex mais famoso da República é um que a assessoria de Lula disse já ter sido seu e que, no momento, pertence oficialmente à empreiteira OAS. Trata-se da unidade 164 A do Edifício Solaris, no Guarujá.

Qual é o busílis? O Edifício Solares pertencia à Bancoop, cooperativa que já foi dirigida por João Vaccari Neto e que deu um beiço em pelo menos três mil associados, que não receberam seus imóveis. A entidade foi acusada de transferir dinheiro para o PT.

A Bancoop passou o edifício para a OAS. A força-tarefa desconfia que imóveis foram “doados” a petistas em troca de facilidades com a Petrobras. Todos os apartamentos estão sob investigação, concentrada, informa o MP, em 11 unidades. Entre estas, está aquela que já teria pertencido ao ex-presidente, segundo sua própria assessoria.

Em outra frente, o Ministério Público Estadual, de São Paulo, já investiga o imóvel que pertenceu a Lula. Em entrevista à mais recente edição da revista VEJA, o promotor Cássio Conserino afirmou que vai denunciar o ex-presidente por lavagem de dinheiro.

Pelo menos oito unidades das onze apontadas nas investigações continuam em nome da OAS, entre eles o apartamento de Lula. Outros dois estão em nome de Freud Godoy (133-A), ex-assessor especial da Presidência da República no governo do PT, e de Sueli Falsoni Cavalcante (43-A), funcionária da construtora. O apartamento de Sueli seria da mulher do Vaccari. O terceiro está em nome da offshore Murray, alvo principal das investigações desta quarta-feira.

Notem: o apartamento de Lula está sob investigação, mas ele, oficialmente ao menos, não.

Esta quarta foi um deus nos acuda! Tão logo começou a circular a informação de que o imóvel está na mira da PF, uma porção de autoridades graúdas do partido resolveu se manifestar — inclusive Dilma Rousseff, que disse coisas incompreensíveis (farei um post a respeito). Em nota, o Instituto Lula negou que o ex-presidente tenha cometido alguma irregularidade e acusa uma espécie de complô.

Mas não foi o único. Jaques Wagner, da Casa Civil, esquecendo-se de que deve falar como ministro de estado, não como esbirro de partido, saiu a anunciar a inocência de Lula. Como ele sabe? Conhece os detalhes do caso?

Embora, para todos os efeitos, Lula não seja um investigado, Wagner saiu em sua defesa e disse que o ex-presidente “virou objeto de desejo”.

José Eduardo Cardozo, da Justiça, também falou sobre o caso, afirmando que não passa de especulação a afirmação de que o alvo dessa fase seja Lula.

Gritaria
Já revelei aqui o truque do chefão petista e do partido. Consiste em sair gritando por aí que “estão querendo pegar Lula” para que jamais se pegue Lula mesmo que existam motivos para isso. Em parte ao menos, a manobra funciona. Formalmente falando, o ex-presidente, saibam, não é um investigado. E não deixa de ser um rebaixamento de sua, digamos assim, grandeza o fato de a investigação que mais se aproxima dele ser esta da Bancoop.

Há sinais de que houve lambança nisso tudo? Aos montes. Observem que não existe papo direto e reto com petistas. As explicações são sempre rocambolescas e nebulosas. Dado o número de associados prejudicados, é coisa grande.

Mas pergunto: esse lance de certa lateralidade da Lava Jato faz justiça à importância de Lula na investigação? A resposta, lamentavelmente, é não. Acho um espanto que, depois das delações de Fernando Baiano e de Nestor Cerveró, ambas homologadas, não haja um procedimento formalmente aberto para investigar a atuação de Lula no contrato que o Grupo Schahin fez para administrar um navio-sonda. Uma vez celebrado, o grupo esqueceu uma dívida do PT que estava na casa dos R$ 60 milhões.

Entenderam meu ponto? Mesmo com essa investigação em curso, Lula continua a ser tratado como inimputável. Sim, é certo que ele pode se enrolar se ficar provada uma tramoia envolvendo o apartamento. Mas convenham: isso é muito pouco, não é mesmo?, depois das delações de Baiano e Cerveró.

Alguém dirá que se trata de uma tática do Ministério Público Federal. Pode ser. Mas eu acho que chegou a hora de parar com esse negócio. Ao contrário do que sugere Jaques Wagner, Lula não está acima de qualquer suspeita. A considerar as delações de Baiano e Cerveró, ele é o fio que ajuda a desenrolar o resto.



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