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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Cunha balança, não cai, mas vai cair. Então que faça um bem ao Brasil!

Quando eu era criança, entre 1968 e 1971, havia um programa de humor na TV Globo que chamava “Balança, mas não cai”, vindo lá do rádio dos anos 1950. Não sei se a expressão virou nome do programa ou o contrário. Mas assim ficou na linguagem, certo?, ainda hoje. Quando alguém está pelas tabelas, mas ainda no poder; quando uma situação é periclitante, mas, no entanto, renitente, então dizemos: “balança, mas não cai”.

Esta é, por enquanto, a situação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Embora as circunstâncias obviamente conspirem contra ele, vai ficando por ali, sendo cortejado por governistas e, sim, por oposicionistas também, que vivem uma estranha circunstância: têm, porque têm, de pedir que ele se afaste da presidência da Câmara, e já o fizeram, mas sabendo que o Supremo concentrou exclusivamente nas suas mãos a decisão sobre dar início à tramitação da denúncia contra Dilma.

O deputado não caiu ainda, mas balança hoje mais do que ontem. Recorreu a Teori Zavascki, relator do petrolão no Supremo, para que as investigações sobre as contas na Suíça que lhe são atribuídas tramitem em sigilo. Foi derrotado. O ministro não viu razão para tanto.

Para quem negou na CPI que tivesse contas e vinha dizendo até havia pouco que referendava aquele depoimento, a decisão é estranha. Ora, por que pedir sigilo sobre o que, então, nem mesmo existiria? A gente tem de ser lógico e óbvio nessas coisas, não? Então ele tem conta.

Mais: um saldo correspondente a R$ 9,6 milhões, depositados em francos suíços, de que Cunha seria o beneficiário, foi bloqueado por Zavascki. Os documentos indicam entradas de R$ 31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões, entre 2007 e 2015, em valores corrigidos. Depósitos e retiradas foram feitos em dólares, francos suíços e euros.

Parece que esses dados liquidam o assunto quanto a Cunha assumir ou não a existência de contas da Suíça, não é mesmo? Mais uma vez, sejamos lógicos: se nada houvesse por lá, em vez de pedir o sigilo da investigação, ele deveria é pedir que não houvesse sigilo nenhum.

Não obstante, o homem segue poderoso, contando com razoável apoio. E, se fosse um partido, ainda seria o dono da maior bancada da Câmara. Mas vou insistir num ponto de vista: com tudo o que há contra ele, será condenado pelo Supremo — não dá para saber quando. Pode até ser que, a exemplo de outro Cunha, o petista João Paulo, consiga se reeleger mesmo sendo réu — caso não haja julgamento até 2018. Mas perderá o mandato, este ou outro. E ele sabe disso.

A um homem nessas condições, por força da Constituição e por vontade de ao menos dois ministros do Supremo — em liminares que devem ser referendadas por maioria — , cabe decidir se a denúncia contra Dilma começará ou não a tramitar.

É evidente que o Planalto não pode mais fazer nada por Cunha — e o que a fazer contra ele já está em curso.

Assim sendo, “Acolhe, Cunha!” Se o desrespeito a leis e fundamentos o colocou em situação difícil, cumpra o que está na Constituição e na Lei 1.079 e acolha a denúncia.

Faça um bem ao Brasil!

 



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