A Folha Online dá um título que chega a ser engraçado num texto publicado às 21h27 desta quarta, a saber: “Odebrecht pedia desconto na propina, diz Youssef em novo depoimento”.
Como se vê, trata-se de um depoimento do doleiro Alberto Youssef, que reafirma o que a empreiteira nega de forma peremptória: o pagamento de propina. Mas esperem. Diz o doleiro que a empresa “pedia desconto” no pagamento de propina. Notaram ou não?
Eu estou enganado, ou o pagador de propina é aquele que compra o outro, que faz o preço — a quem não cabe, pois, por motivo lógico, pedir desconto? Digamos que Youssef esteja falando a verdade e que a empreiteira esteja mentindo. Ainda assim, o que vai nesse título e na própria narrativa de Youssef é extorsão.
Em depoimento a Sérgio Moro, afirmou o doleiro: “Sempre tinha uma encrenquinha com a Odebrecht. Pediam desconto, diziam que a obra tinha sido ganha no aperto, que não tinham condições de pagar”.
Segundo Youssef, Márcio Faria, executivo da empreiteira, é quem pagava os larápios: “Presenciei várias vezes reclamações do seu José [Janene, ex-deputado federal pelo PP, morto em 2010] referentes ao Marcio Faria”. Isso porque Faria estaria querendo pagar menos do que estava sendo exigido. E Youssef deu exemplo de Abreu e Lima: “O valor do comissionamento era para ser de R$ 45 milhões, e, no final, acabou sendo R$ 20 milhões”.
Sobre Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, disse o doleiro: “Em nenhum momento foi mencionado que alguém tinha que pedir autorização a ele para que pudesse fazer pagamentos ou acordos”. Segundo ele, tratava do assunto com “autonomia total”.
Tentem achar neste blog uma só declaração deste escriba que assevere a pureza das empreiteiras. Não mesmo! Mas também sempre tive claro, e escrevi aqui, que os responsáveis pelo ordenamento jurídico não eram os empreiteiros, e sim os agentes que negociavam em nome de partidos políticos e da Petrobras.
Que as empreiteiras pagaram somas milionárias a vagabundos, está posto — ou não se teria devolvido já uma dinheirama. A Odebrecht diz que não fez. Isso é lá com ela e com a sua defesa. Meu ponto é outro.
Digamos que a empreiteira esteja mentindo nessa narrativa em particular e que Youssef esteja dizendo a verdade: o que está sendo narrado aí é extorsão, não apenas pagamento de propina. Quem, afinal, estava em condições de decidir? Quem pedia o desconto ou quem concedia o desconto? Quem fazia o preço?
A resposta é óbvia.
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