Meus caros, também a imprensa precisa tomar cuidado para não acabar cometendo injustiças e sair por aí misturando alhos com bugalhos. Há alguns nomes na tal pré-delação de Cláudio Mello Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, que podem até divertir pelo apelido. Os políticos podem até ser submetidos ao ridículo em razão do tratamento que lhes dispensava um potentado do empresariado nacional… Mas terão cometido algum crime? Não nesse caso ao menos. Se cometeram outros, em circunstâncias diversas, aí não sei.
É por isso que vazamentos dessa natureza — e reitero que não cabe à imprensa guardar sigilo ou atuar como juiz informal — precisam ser coibidos. Cabe ao Estado guardar o sigilo. Vejamos alguns exemplos em que o que se tem é até um testemunho da independência do parlamentar.
Não gosto da senadora Lídice da Mata (PSD-BA). O que ela pensa não me interessa. Teve uma atitude que considerei detestável durante o impeachment. É chamada na pré-delação, para a galhofa da galera, de “A Feia”. E o que que se diz da “Feia”? Que recebeu R$ 200 mil. Foi caixa dois? De toda sorte, ele reclama que a senadora não deu a menor pelota para o pleito da empresa depois. Não se está diante do caso de compra de uma senadora.
O deputado Heráclito Fortes (PSD-PI) é o “Boca Mole”. A gente ri. Está ali também como destinatário de uma colaboração. Ilegal? De quando? A ver. O que ele fez pela Odebrecht nesse caso ao menos? Nada! Relata-se uma ajuda prestada no passado quando um funcionário da empresa foi feito refém no Iraque. É crime? No mais, destaca-se que o parlamentar é uma pessoa influente. E daí?
O caso da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), sem apelido, tem uma certa graça irônica. O tal Mello Filho, que, tudo indica, não tinha pruridos em comprar o que precisasse ser comprado, fica ofendido com uma ligação que teria recebido em busca de doação. E daí? Buscar colaboração privada era da regra do jogo. Notem que não há, do mesmo modo, a mais remota sugestão de troca, seja na condição de senadora, seja na de ministra da Agricultura.
Da mesma sorte, procurem a menor sugestão de irregularidades cometidas por Arthur Virgílio (“Kimono”), José Carlos Aleluia (“Missa”) ou Francisco Dornelles (“Velhinho”), ainda que todos tenham recebido doação da empreiteira. Os trechos seguem abaixo.
Por que escrevo este post? Porque não estamos em dias de Comitê de Salvação Nacional, num Tribunal de Execução Pública, em que basta o nome de um político ser citado por um delator para que ele passe imediatamente à condição de bandidos. Notem: acima, vai um elenco de políticos do PSB, DEM, PSD, PSDB e PP. A menos que se reserve para a delação propriamente a informação de que estabeleceram com a Odebrecht uma relação de troca, e não há crime nenhum aí. E também não está claro que essas colaborações tenham origem em caixa dois.
Ainda faltam mais de 70 delações de pessoas ligadas à Odebrecht. É bem provável que os vazamentos continuem. Compete ao Ministério Público, à imprensa e, em certa medida, a cada um de nós separar o joio do trigo, o alho do bugalho, para que inocentes e culpados não seja jogados todos no mesmo saco.
Isso, como está claro, só interessa ao partido que organizou o maios esquema de corrupção da terra e agora tenta se safar na presunção de que todos, sendo igualmente culpados, são igualmente inocentes.
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