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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Aplaudo a motivação dos que foram às ruas; não gosto é dos motivos porque não existem!

Eu tomo um cuidado danado com as pessoas que se mobilizam em favor disso ou daquilo, especialmente quando o fazem segundo as regras do jogo democrático. O fato de eu não concordar com a pauta ou com os motivos, é evidente, não me leva a hostilizá-las. Seria uma tolice e uma injustiça. Na verdade, eu aplaudo a motivação.

Quem foi à rua neste domingo? Milhares de pessoas que querem um país melhor; que estão, definitivamente, indignadas com a roubalheira; que viram esgotar a sua paciência com os malfeitos, com os desmandos, com as injustiças; que não suportam mais os homens públicos que se mobilizam mais em defesa dos próprios interesses do que em favor do bem coletivo. Assim, a motivação dos indivíduos que protestavam tem suas raízes na virtude.

Sim, já deixei clara aqui mais de uma vez a minha inconformidade com a pauta original do protesto. Não acho que a Lava-Jato corra riscos ou esteja seja acuada. E os fatos estão a favor da minha percepção. Basta olhar os resultados. Aliás, quando o Ministério Público faz o seu trabalho parecer coisa de anjos do Apocalipse, acho que causa um prejuízo efetivo às pessoas e até a si mesmo.

Ora, a Força-Tarefa deveria ser, hoje, um elemento a levar esperança ao povo brasileiro, em vez de pessimismo e desse clima de aguda suspicácia. Em todo canto a gente ouve coisas como “o Brasil não tem jeito mesmo!”; “Não adianta fazer nada, o país sempre vai ficar nesta lama”; “É uma pena que um avião não caia com todos os deputados dentro”…

Com as leis que estão aí — e essa geração do MP dispõe de um arcabouço legal bem mais duro do que as gerações pretéritas —, vejam o cataclismo que o força-tarefa gerou na política. O número de presos, processados, indiciados, condenados e de futuros enroscados, para ser genérico, é assombroso. Sempre se pode melhorar e afinar os instrumentos legais para lutar contra o crime, mas dispomos de uma legislação nada desprezível. A crise episódica que aí está decorre justamente da tentativa de um ente de hipertrofiar o seu poder. E a resposta da Câmara ficou longe de ser a mais inteligente.

Assim, entenda-se: discordo da pauta porque não vejo objeto — não há risco nenhum contra a Lava-Jato — e porque não acho saudável essa demonização do Legislativo. Mas é evidente que isso não me leva a censurar as pessoas, que foram as ruas porque efetivamente esperam um país melhor.

O meu trabalho consiste em fazer, sim, esse registro, mas também em alertar que o endosso a uma declaração de guerra do Ministério Público Federal ao Legislativo é um erro. Eu nunca desconfio da consciência das pessoas que se mobilizam e protestam. Isso é coisa de esquerdista que se quer iluminado. Quando muito, digo o que penso e proponho reflexões. Reflitam se a melhor resposta é essa, uma vez que não há caminho outro para sairmos da crise se não for com a atuação do Congresso.

Mais: as pessoas não têm de conhecer os intrincados detalhes da política. Acho um desserviço que magistrados e membros do MP estejam colocando no mesmo saco de gatos o projeto que altera a lei de abuso de autoridade e a proposta da Câmara que define o crime de responsabilidade para membros do MP e juízes. Isso corresponde a enganar as pessoas.

Exceção feita à turma que vai à rua pregar golpe militar, os que se manifestaram estavam, creio, movidos pela melhor das intenções, pelo melhor dos sentimentos. Mas não custa indagar se o melhor caminho é demonizar, agora, o mesmo Congresso Nacional que derrubou Dilma Rousseff.

Tenho certeza absoluta de que a resposta é “não”. E isso nada tem a ver com condescender com erros e safadezas.



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