Israel vai ficar sem embaixador no Brasil. O Itamaraty se nega a conceder o “agrément” a Dany Dayan, o nome indicado pelo premiê Binyamin Netanyahu para o cargo. O “agrément” é o reconhecimento oficial da representação, necessário para que um embaixador possa, então, exercer as suas funções no país.
A presidente Dilma encasquetou que não aceita o nome de Dayan. Por que não? Entre 2007 e 2013, ele comandou o Conselho Yesha, que representa os 500 mil judeus que moram na Cisjôrdania. Como, oficialmente, o Brasil é contra o que chama “ocupação” do território palestino, então se arvora em censor da indicação do embaixador. É claro que é um absurdo.
Netanyahu decidiu insistir no nome de Dayan. Por essa razão, Israel ficará sem embaixador no Brasil por um bom tempo. Trata-se de mais uma ofensa da companheirada ao único país do Oriente Médio que é uma democracia multirracial e multirreligiosa.
Dilma e os petistas têm todo o direito de ser contra a presença de colonos judeus na Cisjordânia. Cada um de nós pode ter a opinião que quiser sobre qualquer assunto. Mas não lhes cabe decidir, com base em seus filtros ideológicos, quem pode e quem não pode ser nomeado embaixador por outro país. O comportamento dos governos petistas com Israel costeia o antissemitismo. E não é difícil de demonstrar. Querem ver?
Omar al-Bashir é presidente do Sudão. É um assassino em massa. Sob o comando de milícias muçulmanas a serviço de seu governo, pelo menos 400 mil cristãos foram assassinados em Darfur. Mais de 2 milhões foram obrigados a deixar as suas casas. Omar al-Bashir, em suma, é um genocida. Mas seu embaixador é muito bem-vindo pelo Itamaraty.
O Brasil não apoiou nenhuma das propostas em conselhos das Nações Unidas que pediam sanções ao Sudão. Não obstante, os petistas votam sistematicamente contra Israel na ONU. É uma vergonha.
Nestes últimos 13 anos, o Brasil se acostumou à diplomacia de chanchada, à diplomacia circense, à diplomacia momesca. Lula percorreu, por exemplo, ditaduras árabes e se abraçou a facínoras. Emprestou integral apoio a tiranos que massacram seus respectivos povos nas ruas e flertou com aiatolás atômicos, além de se alinhar com ditaduras e protoditaduras latino-americanas. De A a Z, a política externa brasileira percorreu todos os verbetes da indignidade.
O auge da estupidez contra Israel se deu em julho de 2014. O Itamaraty, sob as ordens de Dilma, publicou um verdadeiro repto contra aquele país, que estava em guerra com o Hamas. Fez mais: convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv. Para vergonha da história, o Ministério das Relações Exteriores emitiu a seguinte nota:
O Governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.
O Governo brasileiro reitera seu chamado a um imediato cessar-fogo entre as partes.
Diante da gravidade da situação, o Governo brasileiro votou favoravelmente a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre o tema, adotada no dia de hoje.
Além disso, o Embaixador do Brasil em Tel Aviv foi chamado a Brasília para consultas.
Como se pode perceber, não se reservou uma miserável linha para criticar a violência de palestinos contra judeus. Escolham a tirania que lhes der na telha, e seu embaixador está no Brasil, de frufru com o Itamaraty, porque, afinal, há aquela velha demanda para o país ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Por alguma estranha razão — e isso envergonha a memória do país cujo representante presidiu a sessão da ONU que oficializou a criação do estado judeu: Osvaldo Aranha —, os governos petistas apelam à severidade máxima apenas quando a pauta envolve Israel. E vota rotineiramente contra o país.
É possível que Netanyahu, daqui a algum tempo, acabe indicando outro nome em substituição a Dayan. Isso não elimina da história a decisão calhorda do governo brasileiro. Dar o “agrément” a Dayan não implicaria concordar com a política de Israel para a Cisjordânia, ora bolas! Ou será que, quando Israel aceita o embaixador brasileiro, está endossando o apoio objetivo do Brasil a ditaduras sanguinárias? E não que eu esteja comparando as duas coisas.
Dois pesos, uma medida
Os palestinos têm um embaixador no Brasil. Trata-se de Ibrahim Alzeben. No dia 30 de setembro de 2011, já ocupando o cargo, numa palestra a universitários, disse: “Esse Israel deve desaparecer”. E ninguém o incomodou por aqui.
É curioso! Muitos analistas brasileiros atribuem aos palestinos a candura que eles próprios não se atribuem. Imaginem se um diplomata israelense de um recanto qualquer dissesse: “Essa Autoridade Nacional Palestina deve desaparecer…” Escrevi, então, um post a respeito.
Para que não pesasse nenhuma dúvida sobre o que ele estava querendo dizer, Alzeben fez questão de deixar claro: “E não é o embaixador do Irã nem o presidente (Mahmoud) Ahmadinejad quem está falando”. Logo, ficou evidente que ele não estava defendendo que os judeus saísse da Cisjordânia. Queria Israel fora do mapa mesmo. Ninguém soltou um pio por aqui.
Se um político israelense, porque representou os judeus da Cisjordânia, não pode ser embaixador no Brasil, por que um palestino que pregou ou prega a destruição de Israel recebe por aqui o tratamento de herói da resistência?
Convenham: há nesse comportamento do governo brasileiro algo um tanto distinto da simples condenação da política israelense para os palestinos. Parece-me evidente que o discurso antissionista, nesse caso, é apenas um biombo para o antissemitismo.
É nojento!
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