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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A Lava-Jato, infelizmente, está ajudando a consolidar uma farsa

O recente embate entre o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a presidente Dilma Rousseff é uma espécie de síntese da farsa que, infelizmente, a Operação Lava Jato está ajudando a consolidar. Sim, a operação que está revelando descalabros inéditos na administração pública; que detectou uma roubalheira de bilhões da Petrobras, que apontou os tentáculos do grupo criminoso no sistema elétrico e no Ministério do Planejamento — e, por tudo isso, merece aplausos —, essa mesma operação criou a ilusão, até agora ao menos, de que tanto a estatal como o governo federal são vítimas de larápios do mundo empresarial e da política.

Voltemos ao embate iniciado no domingo, na Suécia, quando Dilma afirmou que lamentava o fato de o caso Cunha ter sido noticiado na imprensa internacional porque ele era brasileiro, destacando, adicionalmente, que o parlamentar não integra seu governo. O presidente da Câmara reagiu e afirmou que lamentava o fato de o governo brasileiro protagonizar o maior escândalo do mundo. A petista respondeu, para escândalo da verdade, que seu governo não é acusado de corrupção. Cunha, então, arrematou com uma ironiza, dizendo que, até onde sabia, a Petrobras está sob o comando do governo federal.

É impressionante que Dilma faça tal afirmação. Uma das questões mais graves que estão sob investigação é a denúncia feita pelo empresário Ricardo Pessoa, segundo quem Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, aplicou-lhe uma delicada extorsão de R$ 10 milhões —  R$ 7,5 milhões teriam sido efetivamente pagos, na forma de doação legal de campanha. Edinho está no governo Dilma e é um dos seus homens fortes.

A forma como se desenvolveu a Operação Lava jato está vendendo ao país, lamento reiterar, uma farsa: um esquema como nunca se viu teria sido montado e operado por empreiteiros, organizados em cartel, e parlamentares que estão longe de constituir a nata do Parlamento brasileiro. Embora os operadores dentro da estatal fossem divididos segundo cotas partidárias; embora estivessem lá para desviar recursos para legenda da base aliada — e claro está que roubaram também para si —; embora o centro nervoso do PT esteja diretamente envolvido no escândalo, apesar de tudo isso, notem, até agora, NÃO EXISTEM PESSOAS DO EXECUTIVO ENROLADAS NO ESQUEMA.

Adicionalmente, como consequência da mentira de que tudo nasce da cupidez de empresários dispostos a assaltar o Estado, já temos uma decisão absurda do Supremo, que decidiu ser inconstitucional o financiamento de campanhas por empresas. No Senado, há o risco de que seja rejeitada emenda aprovada na Câmara que constitucionaliza a contribuição de pessoas jurídicas.

Muito bem! Digamos que a Lava Jato conseguisse mandar para a cadeia todos os políticos que estão na tal lista de Janot. Digamos que todos os empreiteiros investigados sejam severamente punidos. Digamos que a proposta do Ministério Público, com as tais dez medidas contra a impunidade sejam aprovada… Digamos isso tudo! Onde ficamos? No mesmo lugar! Prontos para detectar, daqui a pouco, um novo escândalo. Até porque a proibição das doações de empresas a campanhas será, ela sim, a mãe de todas as corrupções.

Sairemos, podem apostar, da Lava Jato tendo aprendido muito pouco, demonizando, adicionalmente, o capital privado. Enquanto isso, o Estado gigante continuará aí, a assaltar os brasileiros e a destruir o nosso futuro.

É um acinte à inteligência, aos fatos e ao bom senso que Dilma diga, depois de tudo, que seu governo não é acusado de corrupção. E, em certa medida, acusado não é mesmo! A Operação Lava jato criou a ilusão de que o governo e até a presidente são vítimas de homens maus. É uma piada macabra.

Sim, é claro que muitos acham divertido ver os ricos em cana, de algemas etc. Mas nós temos de ter um compromisso com o futuro. E, por enquanto, o país está condenado a repetir as mesmas misérias morais. Se Dilma se sente à vontade para bater do peito e arrotar a moralidade do seu governo, há algo de profundamente errado nessa narrativa. E não só com Dilma.



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