Queridos leitores, quando se atravessa o umbral do petismo, é preciso deixar para trás todo saber convencional, mais ou menos como a divisa do Inferno na Divina Comédia, de Dante: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”. Se um dia a sua inteligência for contaminada pela, digamos, lógica do partido, aí, meus caros, é grande a chance de você nunca mais vislumbrar o céu da razão.
A classe operária, ao contrário daquela tolice marxista, nunca foi internacional. Mas a classe petralha, ah, essa é, sim. Aliás, tem até o seu “Komintern” de picaretas: o Foro de São Paulo, organização criada em 1990 por Lula e Fidel Castro para reunir os partidos de esquerda da América Latina e Caribe. Entre os “companheiros” da turma estavam os narcoterroristas das Farc. Foi numa dessas reuniões, diga-se, que Hugo Chávez conheceu o terrorista Raúl Reyes, morto pelo Exército colombiano em 2008, no Equador. Mas sigamos.
A Polícia Federal está investigando uma operação realizada em 2012 por João Santana, marqueteiro do PT. Uma de suas empresas, a Pólis Propaganda & Marketing, trouxe de Angola para o Brasil nada menos de US$ 16 milhões, o equivalente, à época, a R$ 33 milhões. Santana diz que se trata de dinheiro que ganhou na campanha eleitoral daquele país. Ele foi o marqueteiro do ditador José Eduardo Santos, que está no poder desde… 1979!
Além de Angola, o marqueteiro petista fez ainda campanha para Maurício Funes (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), em El Salvador, em 2009; para Hugo Chávez (Partido Socialista Unido da Venezuela), em 2012, e, no mesmo ano, para Danilo Medina (Partido da Libertação Dominicana). Curiosidade: as três agremiações integram o Foro de São Paulo. Adiante.
Em 2012, deu-se no Brasil a eleição de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, que ficou sob o comando de Santana, pela qual ele cobrou, oficialmente ao menos, R$ 36 milhões. A Polícia Federal investiga se a operação de internamento dos US$ 16 milhões não foi uma triangulação envolvendo lavagem de dinheiro. A hipótese: empreiteiras brasileiras que atuam em Angola teriam pagado a Santana, no exterior, pela campanha de Haddad — longe dos olhos da Justiça Eleitoral Brasileira —, e ele teria se encarregado de trazer o dinheiro para o Brasil.
Em entrevista à Folha, o marqueteiro nega qualquer irregularidade e desafia que se prove o contrário. Até onde se sabe, cumpriu, de fato, todos os rituais legais para trazer o dinheiro, pagando impostos de R$ 6,29 milhões. Santana criou uma página eletrônica — http://ift.tt/1I7VIhS — para explicar a operação. Exibe também os documentos dos pagamentos feitos pelo PT pela campanha de Haddad. Ele disse que vai cobrar retratação da PF por causa do inquérito, no qual já depuseram João Vaccari Neto e o prefeito de São Paulo.
Algumas questões a considerar. Operações desse tipo, dizem especialistas, não são corriqueiras, até pelos pesados impostos que implicam. Santana diz que não deixou o dinheiro em Angola porque não mantém negócios por lá. Afirma ainda ter cobrado US$ 20 milhões pela campanha do ditador José Eduardo dos Santos. Vá ganhar dinheiro assim lá em Angola, né!? Um lucro líquido de 80% faz menos de Santana um gênio do que de Santos um idiota. E, creiam, eis uma coisa que não se pode afirmar. Um dos tiranos mais ricos do mundo — Isabel dos Santos, suas filha, é dona de uma fortuna de US$ 3,3 bilhões — não é do tipo que joga dinheiro pela janela.
Há mais. Eu nunca acreditei na prestação de contas dos partidos — de nenhum! O que vai agora não vale apenas para o PT, não: sempre que vocês lerem o valor oficial de uma campanha, acrescentem uns 60% de “recursos não-contabilizados”, para lembrar a expressão consagrada por Delúbio Soares.
Que a polícia investigue, pois, se houve alguma irregularidade, embora eu não acredite que vá sair coelho desse mato, além da nossa estupefação. Tudo parece ter sido feito para não deixar arestas.
Lembrem-se, para arrematar, que Angola passou a ser um dos países com os quais os petistas mantêm, digamos, relações privilegiadas. A vantagem de se negociar com ditaduras — ainda que uma ditadura disfarçada de democracia, como é o caso — é que inexiste compromisso com a transparência. Querem exemplos? Qual é a chance de Angola ou Cuba fornecerem documentos confiáveis sobre os financiamentos feitos pelo BNDES?
O fato de a classe petralha ser internacional torna a vida dessa gente uma festa.
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