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sábado, 2 de maio de 2015

Keynes não era keynesiano. Ou: Leiam os originais!

Certa vez o economista austríaco Fredrich Hayek disse que não desejava ter discípulos “hayekianos”, pois tinha visto o que acontecera com Marx e Keynes. Os marxistas eram muito piores do que Marx, e os keynesianos muito piores do que Keynes. Ele temia, com razão, pelo seu legado, caso os hayekianos começassem a falar em seu nome.

Lembrei disso ao ler a entrevista nas páginas amarelas da Veja desta semana com o biógrafo de Keynes, o historiador inglês Richard Davenport-Hines. A jornalista Ana Clara Costa fez perguntas objetivas a ele, tentando extrair suas opiniões sobre alguns temas polêmicos em relação a um dos pensadores mais influentes do século XX.

O resultado é um Keynes que deve ser resgatado de seus seguidores mais famosos na atualidade. Tenho muitas críticas a Keynes, acho que ele esteve errado com mais frequência do que certo, que seu legado acabou ajudando a parir um estado mais intervencionista com efeitos bem distantes dos desejados pelo próprio Keynes. Mas não vejo Keynes como um inimigo do capitalismo, como os modernos adeptos do keynesianismo gostariam. Esse trecho da entrevista merece destaque:

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Associar Keynes aos keynesianos atuais que só pedem mais gastos públicos e mais intervenção estatal, independentemente do cenário econômico, é uma injustiça com Keynes. São os “keynesianos de quermesse”, como ironiza Alexandre Schwartsman, ou os “keynesianos manetas”, como eu já brinquei, pois parecem sempre ignorar o outro lado do conceito de anticíclico.

Para eles, sempre é o momento adequado para o governo expandir gastos e intervir mais na economia. Jamais vemos um keynesiano moderno pedindo contenção de gastos públicos e mais liberdade econômica, e na época da bonança, eles simplesmente ignoram a tal política anticíclica. Gastos públicos sempre para cima, é nisso que se resume o keynesianismo hoje.

Ou seja, apenas uma forma disfarçada de pregar a estatização crescente da economia, eventualmente levando ao socialismo. Casaram Keynes com Marx, sendo que a influência deste se sobrepuja à daquele, o que faria o próprio Keynes se revirar no túmulo, pois rejeitava com força o marxismo.

Hayek estava certo. Quando vemos o que alguns anarcocapitalistas mais radicais falam em nome de Mises, por exemplo, que era um liberal democrata defensor do estado mínimo como um “mal necessário”, ou quando vemos os seguidores atuais de Marx e Keynes, podemos concluir que quase sempre os discípulos distorcem a mensagem original para encaixá-la em seus anseios mais radicais. O ideal, portanto, é sempre ler os originais mesmo.

Rodrigo Constantino



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