É… Sérgio Machado parece mesmo disposto a causar. Ele resolveu rebater a fala do presidente Michel Temer, segundo quem jamais existiu a conversa em que teria pedido dinheiro ilegal para o então presidente da Transpetro. Mas peço que vocês fiquem atentos.
Machado emitiu uma nota em que se lê:
“3) Naquele mesmo mês, estive na Base Aérea de Brasília com Michel Temer, que embarcava para São Paulo. Nos reunimos numa sala reservada;
4) Na conversa, o vice-presidente Michel Temer solicitou doação para a campanha eleitoral de Chalita;
5) O vice-presidente e todos os políticos citados sabiam que a solicitação seria repassada a um fornecedor da Transpetro, através de minha influência direta. Não fosse isso, ele teria procurado diretamente a empresa doadora;”
Observem que, em nenhum momento, ele deixa claro que o então vice estivesse pedindo dinheiro irregular. Ele presume que o outro soubesse — na hipótese, claro!, de que aquela conversa tenha existido, o que Temer nega.
Se o agora presidente quisesse acusar Machado de calúnia — isto é, de lhe ter imputado um ato criminoso —, não conseguiria. Digamos que a conversa tenha existido e que Temer tivesse dito ao suposto interlocutor: “Veja se você consegue uma doação para o Chalita”… Quem sugere que Temer sabia da origem ilícita é o próprio Machado. Mas nem isso é claro!
Calma que há mais.
O vídeo com o depoimento de Machado ao Ministério Público está disponível. No trecho abaixo, entre 8min51s e 12min13s, ele trata de seu suposto encontro com Temer. Peço que vejam.
Transcrevo um trecho. A partir de 9min43s, diz Sérgio Machado sobre Temer:
“Ele [Temer] chegando lá, eu falei com ele, ele falou da dificuldade que ele estava tendo em São Paulo acerca da campanha do Chalita, EU DISSE QUE PODIA AJUDÁ-LO EM UM MILHÃO E QUINHENTOS, MAS QUE DEPOIS EU INFORMARIA A ELE A EMPRESA. Telefonei depois a ele informando que essa doação seria feita pelo Diretório Nacional, através da empresa Queiroz Galvão”.
É evidente que se trata de um depoimento rigidamente orientado. Reitero: ainda que a conversa tivesse existido, na delação, na nota e no vídeo, Machado não diz que Temer sabia da origem ilícita da doação. E por que faz isso? Ora, porque se livra de um processo.
Qualquer advogado sabe que o que vai acima não dá em absolutamente nada, de lado nenhum. Nem há como acusar o presidente de coisa nenhuma, nem este pode acionar Machado na Justiça.
Quando e se a Operação Lava-Jato terminar, será preciso que as melhores cabeças do direito pensem numa, vamos dizer assim, chacoalhada ética nessa coisa toda.
Trecho complicado
Abaixo, há outro vídeo. Entre 5min17s e 10min32s, o interlocutor de Machado, do Ministério Público Federal, leva o depoente a declarar que o órgão não teve nenhuma responsabilidade nas gravações. Assistam ao vídeo: às vezes, o procurador complementa as frases em que o criminoso confesso tartamudeia.
Segundo Machado, ele optou pela delação no dia 16 de dezembro do ano passado, um dia depois da operação de busca em apreensão em sua casa. Mas ele só fez as gravações em fevereiro e março…
E por que optou pelas gravações e pela delação? Ora, transcrevo as palavras dele, se vocês tiverem estômago:
“Eu achava que era importante naquele momento, que o Brasil passava por aquelas mudanças, como da minha vida (???), eu poderia ter tranquilidade, eu podia retomar a minha vida, eu poder voltar a sonhar, sair daquele momento que a gente vivia, que eu sou político há muito tempo, eu tinha valores que eram aceitos, mas que não estão certos e precisavam ser corrigidos. E eu queria definitivamente começar um novo momento da minha vida”…
A síntese é a seguinte
O Ministério Público quer se livrar da eventual suspeita de que captura testemunhas e as instrui a sair por aí gravando todo mundo, o que não constitui um dos modos mais ortodoxos de produzir provas. E Machado quer nos convencer de que teve um surto ético e agora quer consertar o Brasil. Num outro trecho, ele chega até a sugerir uma reforma política.
Foi um surto ético, tá, pessoal?, mas que ele teve só no dia seguinte à busca e apreensão. Não tivesse havido esta, talvez ele continuasse a assaltar os cofres públicos por mais tempo. Mas, agora, o homem que meteu a própria família numa verdadeira organização criminosa está disposto a se regenerar.
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