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terça-feira, 28 de junho de 2016

Ah, agora dizem que virei socialista… Ohhh!!! Seria um encontro com meu passado, Velho Çábio?

 

Que delícia!

Na conversa que mantive com Caio Blinder, nos Pingos nos Is, ele me informa que fui chamado no Twitter por algumas pessoas que o acompanham de “socialista tupiniquim”— também sou acusado de  “socialista fabiano” etc. Entendi que a gentileza parte dos sectários — ou sicários? — do Velho Çábio. E por que eu seria, na verdade, de esquerda, ainda que tente desesperadamente esconder tal condição?

Já respondo.

Fico me perguntando, já que sou esquerdista, se a hora de me revelar não teria sido no auge do governo petista, quando parecia que os companheiros ficariam cem anos no poder…

Não tente ser lógico com reacionários místicos. Quanto mais eles erram nas suas antevisões, mais convictos se tornam. Vejam o caso da queda de Dilma: quebraram a cara. Apostaram que ela iria ficar, ainda que demonizando-a. Só que ela caiu. Sigamos.

A causa
Eu seria esquerdista porque teria aderido ao governo globalista, que estaria sendo tramado pelas esquerdas desde sempre nooo… Naaa… Ehhh… Onde mesmo fica a sede da conspiração? Ah, é verdade: a sua natureza é não ter sede, né?, é ser um valor, é ser uma abstração, cujo conteúdo só é plenamente conhecido pelo Velho Çábio. Se você comprar todo o seu curso de filosofia pela Internet, ele o vai iniciando nos arcanos… Que picareta!

Eu seria socialista porque observei que a população do Reino Unido só tomaria na cabeça ao sair da União Europeia. Eu seria socialista porque acho que haverá uma piora objetiva das condições de vida dos cidadãos com o rompimento. Eu seria socialista porque observei o óbvio: quem corre o risco de se desfazer é o Reino Unido, não a União Europeia, que tende, ao contrário, a se fortalecer, ainda que sem a por enquanto quinta economia do mundo. E já há alguns sinais disso.

No caso, eu me alinhei com notórios socialistas europeus como David Cameron e Angela Merkel… Santo Deus! Como é fácil enganar trouxas e ainda ganhar uns trocados com isso! Eu seria socialista porque, enfim, chamei de conversa mole essa história de que a “Burocracia de Bruxelas” esmagava a liberdade.

Li com prazer artigos de quem pensa o contrário no que penso nesse particular. Um deles é de autoria do brilhante João Pereira Coutinho, na Folha, talvez o melhor texto na imprensa brasileira hoje. Não me convenceu pelo argumento, mas me seduziu pelo estilo e por um fecho de ouro, a saber: “A Inglaterra sempre foi decisiva para salvar os europeus deles próprios”.

Obviamente, considero possível ser inteligente pensando o contrário do que penso sobre quase todos os assuntos. Não tenho esse grau de intolerância nem estou permanentemente perscrutando sentidos secretos no que dizem as pessoas.

A minha questão em relação à permanência do Reino Unido na União Europeia era puramente pragmática. E acho que mais ela atendia à visão de mundo dos conservadores do que o rompimento, no qual vejo certa inclinação idealista, avessa à matemática e à ordem dos fatos.

Esse “contar a história do futuro” com base numa idealização do passado me parece muito mais, digamos, esquerdista do que a permanência — esta, sim, assentada em fatos concretos e em interesses de curto e médio prazos.

Aliás, o próprio Coutinho trata muito bem, como uma virtude (e eu concordo com ele), desse horizonte de mais curto prazo do conservadorismo num pequeno e magistral livro: “As Ideias Conservadoras”, da Editora Três Estrelas. Recomendo a todo não esquerdista. Recomendo a todo esquerdista. Recomendo a qualquer um.

Ao defender que o Reino Unido permanecesse na União Europeia, não fiz uma escolha entre bulas ou entre duas bíblias. Não se trata de um choque de fundamentalismos. Eu apenas pesei qual circunstância me parecia melhor para a realização de alguns desígnios que, entendo, tornam o mundo melhor: mais eficiência econômica, maior poder de negociação de um bloco que tem a democracia como valor universal; um trânsito mais desimpedido de mercadorias e ideias; a chance efetiva de países se preservarem (também nesse caso, caro Coutinho) de si mesmos.

E continuo achando que eu estava certo. Tanto é que, tudo indica, se efetivada a saída, o Reino Unido terá de fazer tantos acordos bilaterais com a União Europeia que, na prática, será quase como se não tivesse saído.

E isso tornará, então, ainda mais absurdo o custo do rompimento.

Em política, o idealismo custa caro. Os conservadores sempre souberam disso como ninguém.



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