Leonardo Boff. Fonte: GLOBO
Acabo de comentar o excelente artigo de hoje de Arnaldo Jabor, e nada como um exemplo concreto para ilustrar a insistência asinina dos comunas. Leonardo Boff fez uma palestra no Instituto Lula, resumida em reportagem do GLOBO de hoje. Boff é aquele da Teologia da Libertação, que fez um casamento forçado entre Cristo e Marx, com total predomínio do último. É um guru de boa parte da esquerda brasileira, inclusive de “moderados” (risos) como Marina Silva. Eis o que ele disse:
O poder, para se manter, precisa sempre de mais poder. Ou ele vai acumulando cada vez mais e se torna ditatorial, ou se alia a outros para ser sempre poderoso. Acho que o PT entrou nesse vício de poder. E onde há poder não há amor, desaparece a misericórdia. [...] Acho que o caminho nosso implica uma espécie de ruptura democrática, que passa pela convocação de uma Assembleia Constituinte, de uma redefinição do projeto econômico. Eu acho que o (ministro da Fazenda, Joaquim) Levy representa o grande capital mundial. [...] As oposições estão se alinhando a uma nova estratégia, que vem do Império, que é o estado de exceção. Isto é, já não vale democracia, leis do Judiciário, vale tudo. [...] Temos que ocupar as praças. A direita está ocupando as ruas para bater panelas vazias. Eles nem sabem onde está a cozinha.
Boff fez críticas específicas ao GLOBO e a colunistas do jornal, ao lembrar que o jornal teve acesso a informações sobre reunião recente em que Lula fazia críticas a Dilma. (”Eu trouxe a minha bengala aí, e se alguém gravar leva uns bengalaços meus”). A Lava-Jato também foi alvo de críticas do teólogo. Boff afirmou que os delatores se “parecem com heróis, mas são bandidos”. Disse também que o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações, “mais parece mouro”.
Há de tudo um pouco aí. Para começo de conversa, o marxista reconhece, implicitamente, o alerta feito pelo grande liberal Lord Acton, de que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. A solução encontrada pelos liberais para esse enorme risco baseado na natureza humana é evidente: descentralizar o poder, limitá-lo ao máximo com restrições constitucionais, respeitar as liberdades individuais. Mas qual a incrível solução dada pelo comuna para o problema do “vício do poder”? Concentrar ainda mais o poder no estado! Não é fofo?
Talvez o “religioso” ache que falta amor e misericórdia ao regime cubano também, que ele defende. Uma ditadura comunista que ceifou a vida de milhares de inocentes, cujo único “crime” fora discordar do socialismo, é enaltecida pelo “misericordioso” marxista. Se há o “vício do poder”, então basta colocar gente amorosa concentrando todo o poder, e tudo será lindo. Compreender que é preciso descentralizar o poder político, isso é exigir demais dessa gente.
Em seguida, após essa “pequena” contradição que passou despercebida pelo “intelectual”, vem a verdadeira mensagem: devemos fazer uma “ruptura democrática”. Ou seja, revolução, golpe. Por meio de uma Assembleia Constituinte, a esquerda quer mudar o “sistema econômico”, i.e., impor o socialismo. Joaquim Levy, claro, é usado como símbolo do “capital internacional”, conforme alertado por nós liberais. Sua presença no governo Dilma, de esquerda, é o pretexto perfeito dos comunas para acusar o “neoliberalismo” pelo fracasso socialista.
Em seguida, logo após pedir um golpe, Boff acusa a oposição de ser golpista. Um bom aluno do titio Lenin, que sabe xingar os outros diante de um espelho. Já não vale democracia, nem as leis, diz ele, ignorando que os “golpistas” pendem exatamente o cumprimento das leis democráticas, lembrando que governante algum está acima delas. Mas vai cobrar coerência de um comuna! É como cobrar que Dilma explique a teoria da relatividade de forma clara e objetiva, ou seja, é cobrar o impossível.
Depois, o “cristão” conclama seus comparsas a ocuparem as praças, já que a “direita” está nas ruas. A direita, vale notar, que nem sabe onde fica a cozinha! Eis aqui o velho monopólio das virtudes: a esquerda “intelectual” acha que fala em nome do “povo”, essa abstração fantástica usada de forma populista pelos canalhas da elite poderosa que critica o excesso de poder.
Por fim, Boff segue a cartilha golpista do PT e ataca a imprensa e o juiz Sergio Moro, que vem fazendo seu trabalho de forma independente. E ainda “brinca” que levou a bengala para dar uma cacetada em um jornalista que ousasse gravar seu discurso, para provar como é pacífico e misericordioso. Tudo pode ser uma grande confusão mental, claro, mas pode ser também oportunismo pérfido. Deixo o leitor escolher…
Rodrigo Constantino
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