Queridos leitores,
Vou falar aqui de déficit primário. Mas, antes, farei uma digressão que, em vez de nos distanciar do tema, mais nos aproxima.
Meu compromisso, como jornalista, é com os fatos, não com os meus amores e meus ódios — estes, de resto, inexistem porque, diante da simples suspeita de que algo semelhante possa brotar em mim, atuo para matar o mal na origem. O ódio escraviza. Talvez eu não seja um cristão exemplar por uma porção de razões, mas não por essa. De fato, a piedade logo toma em mim o lugar em que poderia brotar o ódio. E não pretendo mudar.
Ao longo dos anos, todas as críticas que fiz e faço ao PT e ao governo — e a outras forças políticas — estão centrada em valores. E eu não abro mão deles. Se e quando mudo de análise, aviso. Não cedo a pressões. Não cedo a patrulhas. Não cedo a baixarias. Tampouco me divertem os insucessos do governo, de Dilma, de quem quer que seja. Não vibro com desastres alheios, não tripudio. São sentimentos malignos.
Mas não deixo de dizer o que penso, por mais duro que seja — e desde que relevante para o país. Não é assim porque sou bom. mas porque sou decente. E procuro, na conversa diária com vocês, apontar cenários, antecipar tendências, acusar desacertos — e até acertos, se e quando os há.
Ficamos sabendo que o Brasil teve hoje um déficit primário inédito no primeiro semestre: R$ 1,598 bilhão. É o primeiro saldo negativo no período desde 1997, quando o Tesouro Nacional deu início a essa série de medições.
Muito bem. Quando o governo anunciou a redução do superávit primário de 1,1% do PIB para 0,15%, escrevi aqui um post cujo título era este: “Levy é derrotado pela realidade; superávit será de 0,15% do PIB; o país já está em déficit primário”.
No texto, lia-se:
E o governo federal reduziu mesmo a meta de superávit primário de 1,1% do PIB para 0,15%, conforme antecipou a Folha na sua edição desta quarta. Um pequeno corte no corte de 86,36%. Governo que planeja é assim. Não custa lembrar que essa meta foi definida há coisa de cinco meses. Há três dias Joaquim Levy se mostrava contrário até a que se reduzisse a dita-cuja de 1,1% para 0,4%, conforme propunha o senador Romero Jucá (PMDB-RR), mais realista do que o governo, sim, mas, ainda assim, muito otimista.
Previ nesta manhã que a reserva esperada para a amortização dos juros da dívida ficaria em R$ 9 bilhões. O governo anunciou hoje que será algo entre R$ 8,5 bilhões e R$ 9 bilhões. Por que você deve acreditar? Bem, você não deve.
(…)
Nesta manhã, afirmei que o país caminha para o déficit primário. Na verdade, os números divulgados pelo governo indicam que o país já está produzindo déficit primário: notem que o valor do novo corte do Orçamento praticamente coincide com tudo o que se espera economizar.
Os dados seguem devastadores para as contas públicas. O governo reduziu em R$ 46,7 bilhões a receita líquida esperada — ou quase 0,9% do PIB, mas a previsão de gastos aumentou em R$ 11,4 bilhões.”
Retomo
Aí está. Se um blog servir para que os leitores compreendam melhor a realidade, empregando os instrumentos da razão, ótimo. Esta página existe para isso e vai manter o seu eixo.
Uma braço.
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