Ancoro o programa “Os Pingos nos Is”, na Jovem Pan AM E FM, hoje a maior audiência do rádio brasileiro, felizmente a sexta, entre 18h e 19h. O programa está no ar desde abril do ano passado, e a audiência não para de crescer — como sabem também as outras emissoras. Trata-se apenas de um fato.
É claro que os idiotas procuram as teorias as mais exóticas para explicar o “fenômeno”. Tendo a achar que assim é porque o programa é bom — e não, eu não acho que tudo o que dá audiência é bom nem que tudo o que é bom dá audiência. Mas também não estou entre aqueles que acreditam que a qualidade de um programa jornalístico é inversamente proporcional a seu público. Há muita gente que não é ouvida — ou vista ou lida — por quase ninguém porque é chata, incompetente, primária.
Quem ouve o programa sabe qual é a nossa praia. Talvez seja a atração da radiodifusão brasileira que mais recomende livros, filmes, músicas etc. E ela trata, afinal, basicamente, de política e economia. Não havia uma fórmula para começar. A coisa foi acontecendo assim. Trata-se de um programa essencialmente opinativo. Mas só se pode opinar sobre um fato, e este tem de ser inconteste, ou a opinião não será boa nem má, mas apenas errada. Sim, existem opiniões erradas. Basta que lide, por exemplo, com números falsos.
Se você é favor da legalização do aborto porque lhe contaram que morrem por ano 200 mil mulheres em razão desse procedimento, como se repetia por aí, a sua opinião está errada porque o número é falo. Morrem pouco mais de mil. É muito? É. Mas não são 200 mil. Se você é contra a redução da maioridade penal porque os adolescentes cometeriam menos de 1% dos delitos graves, a sua opinião é igualmente errada. Esse número não existe. Eu sou contra a mudança da lei do aborto e a favor da mudança do texto constitucional sobre a maioridade. Convivo com gente que pensa o contrário. Desde que esteja com os números certos, é claro!
O programa não lidera com tanta folga porque tem este ou aquele viés ideológico. Até porque aposto que boa parte dos ouvintes não concorda comigo. E eu não sou o tipo de sociopata que aposta que um dia todos descobrirão “a verdade”: a minha. Por que essa longa consideração?
Nesta quinta, entrevistamos a senadora Marta Suplicy, sem partido no momento, possível candidata à Prefeitura de São Paulo. É claro que já discordei de Marta muitas vezes — aliás, aconteceu durante a entrevista. Dado o tempo, foram feitas as perguntas possíveis, com a dureza necessária. E, por razões óbvias, dado que ela saiu do PT e que o partido foi à Justiça para tomar o seu mandato, a senadora criticou o petismo e suas respectivas gestões na capital paulista e no país.
Foi o que bastou para a Al Qaeda eletrônica cair de pau na senadora. Oh, como ela ousa conceder uma entrevista a alguém como eu, um notório crítico do PT? É claro que eles não escreveram “notório crítico do PT”, né? As prostitutas do financiamento estatal, disfarçadas de jornalistas, são mais bocudas do que isso.
Ora, e por que a senadora não falaria ao programa de rádio mais ouvido do país? Só porque ela discorda de mim? Só porque eu discordo dela? Venham cá: agora que ela está rompida com o PT, esses veículos financiados pelo leite de pata do dinheiro público vão continuar a elogiá-la, como faziam antes, ou ela virou uma “inimiga”? Eu entrevistei Marta sem concordar com ela — manifestando, inclusive, essa discordância. A gritaria é puro alarido de ressentidos, de idiotas, de incompetentes.
Ademais, a repercussão do programa, refiro-me à positiva, foi realmente espantosa. Por “positiva”, quero dizer o seguinte: gente que reconhece que foi jornalisticamente relevante. Parece que os vermelhinhos que gostam das verdinhas oficiais ficaram furiosos porque cutuquei Marta, perguntando-lhe a razão de jamais falar mal de Lula — e ela acabou falando. Entendi: eles, porque se dizem “progressistas”, jamais fariam uma entrevista com a senadora; e eu, porque sou “conservador”, jamais deveria entrevistá-la. No mundo dourado desses cretinos, quando alguém abandona tem de ser banido da vida.
Eu entrevisto quem se disponha a responder as perguntas que tenho a fazer. Quanto aos ressentidos, fazer o quê? Vão lá entrar na fila do guichê para pegar mais um capilé oficial. Ou vão curtir a sua irrelevância de maneira um pouco mais digna.
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