Vamos lá. Todo mundo sabe o que eu pensava sobre a indicação do agora ministro Luiz Edson Fachin para o Supremo. A resistência a seu nome nasceu aqui, como ficou evidente. Dia desses, ele comentou que só a delação, pouco importa se premiada, não basta para condenar alguém.
Alguns ficaram tentados a ver na fala a evidência de que ele chegava ao tribunal já para assar a pizza do petrolão. Na rádio Jovem Pan, lembrei duas coisas: 1) ele não pertence à segunda turma e só em situações excepcionais vai atuar no caso — se a presidente Dilma for engolfada, por exemplo; 2) no particular, está certíssimo.
É evidente que uma delação tem de estar ancorada em provas. Não é porque eu não queria Fachin lá que vou discordar dele quando afirma a coisa certa. Eu atuo por convicção e princípio, não para pegar no pé dos outros ou desqualificar pessoas por quem não tenho apreço intelectual, profissional, técnico, o que seja…
Nesta segunda, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef participaram de uma acareação na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. A versão de ambos só coincidiu sobre um suposto pagamento de propina da Brasken, controlada pelo grupo Odebrecht, para comprar nafta, de que a Petrobras é a única fornecedora, a preços menores. Nota: a estatal brasileira tem 47% das ações com direito a voto e 36% do capital total da Brasken, que nega a irregularidade.
No mais, houve muitas discordâncias.
O ex-diretor da Petrobras afirmou, por exemplo, que, em 2010, autorizou Youssef a doar dinheiro para as campanhas de Roseana Sarney (PMDB), no Maranhão, e do senador Humberto Costa (PT), em Recife. O doleiro nega. Um dos dois conta uma mentira, certo? Ainda que o motivo seja o esquecimento.
Há outra divergência importante entre eles, que não foi tratada na acareação de ontem. Costa afirma que Antonio Palocci lhe pediu R$ 2 milhões para a campanha de Dilma em 2010 e que Youssef teria sido encarregado de fazer o pagamento. O doleiro nega isso também.
Atenção! Mesmo quando as versões são coincidentes, as provas se fazem necessárias. Ou não acontece não. Até porque dois delatores podem, obviamente, combinar uma versão. Os respectivos advogados de ambos minimizaram a importância das contradições e dizem que elas não são relevantes para a essência do caso. Huuummm… Não?
Se versões coincidentes precisam de provas, mais estas se fazem necessárias quando elas são discrepantes, certo? É evidente que os casos Palloci e Roseana morrerão na praia se Ministério Público e Polícia Federal não tiverem em mãos nada além das falas colhidas em delação premiada. Só o testemunho, escrevam aí, não vai condenar ninguém.
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