Entre companheiras?
Michele Bachelet voltou à presidência chilena com um discurso de campanha mais radical e esquerdista. Cheguei a comentar aqui o risco de retrocesso do país caso não fosse apenas um discurso eleitoreiro para vencer. Logo no começo, escândalos derrubaram pessoas ligadas a ela, um começo preocupante. Agora, vemos em reportagem de José Casado que a presidente deve realmente conseguir uma reforma tributária radical, que aumenta bastante a carga de impostos sobre o capital:
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, aprovou na Câmara, na madrugada de quinta-feira, uma reforma tributária que impõe um significativo aumento dos impostos sobre o capital. Empresas que hoje pagam 20% sobre lucros devem pagar 35% em tributos a partir do próximo ano. O projeto de lei agora vai à votação no Senado, onde a oposição admite que não têm votos suficientes para derrubá-lo. O governo e partidos aliados intensificam a campanha explicativa na televisão
O Chile arrisca-se numa radical mudança de rumo na política econômica, a partir de profundas alterações na estrutura tributária em vigor há quatro décadas — incluindo a criação de imposto sobre a emissão de gases de efeito estufa. O objetivo é aumentar a receita governamental em dois pontos percentuais do Produto Interno Bruto, um adicional estimado em US$ 8 bilhões em arrecadação.
Desde a ditadura do general Augusto Pinochet, nos anos 70, o país convive com um sistema pelo qual o ganho salarial pode ser tributado em até 40% e o lucro empresarial no máximo 20% (empresas estrangeiras têm isenção quase total). Essa política liberal teve resultados concretos — o mais destacável é o crescimento econômico acelerado em ambiente de inflação baixa, durante três décadas.
O Chile, de fato, tem os melhores indicadores econômicos da região, mas uma desigualdade acentuada. Se a sociedade chilena escutar os discursos de inveja da esquerda e colocar como prioridade o combate a esta desigualdade, o crescimento será penalizado. Socialistas só pensam em distribuir, mas ignoram que riqueza se cria, e depende justamente dos investimentos do capital, em ambiente de liberdade econômica.
Quem costuma pagar por essas medidas não são os muito ricos, que sempre encontram formas de compensação, e sim a classe média. É esta que acaba asfixiada pelo aumento de impostos ou sofre diretamente com a queda da atividade econômica. Será uma lástima se o legado econômico – a única coisa boa – da era Pinochet for totalmente destruído. Até aqui, nem a esquerda no poder ousou mexer em certas “vacas sagradas”.
Bachelet, ao que tudo indica, vai mesmo levar adiante seu projeto vendido durante as eleições. Se for bem-sucedida, o Chile dará alguns passos para trás, e ficará mais perto dos países bolivarianos, cuja fome estatal por impostos é insaciável. A carga tributária chilena é menor hoje, e este é justamente um dos motivos de seu relativo sucesso, entre outras coisas. Punir o capital é a forma mais rápida de aumentar a pobreza.
Rodrigo Constantino
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