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domingo, 7 de maio de 2017

Os erros e contradições das delações da Odebrecht e os demagogos

Reportagem publicada pela Folha neste domingo mostra uma penca de contradições entre delatores da Odebrecht: em muitos casos, há versões conflitantes, e estas, por seu turno, não estão espelhadas nas petições que pediram abertura de inquérito, com as quais concordou o ministro Edson Fachin. Antes dele, Cármen Lúcia, presidente do Supremo — e notória pré-candidata a eleição indireta, direta ou, como direi?, a serviço do Espírito Santo —, teve papel definidor. Foi ela quem homologou de cambulhada as delações.

Atenção! As divergências dizem respeito às versões — às narrativas propriamente ؙ—, mas também aos valores. Obviamente, a reportagem da Folha não fez um levantamento sobre todos os implicados na Lava Jato. Segundo se entende, fixou-se na lista da Odebrecht, que é imensa. Mesmo nesse grupo restrito, é possível que muitas outras incongruências, dado o número de depoimentos e implicados, ainda estejam por vir à luz.

O que isso significa? Pois não! Cármen homologou tudo de cambulhada sem ler. Afinal, havia o alarido: “Homologa isso aí depressa!” E Fachin adotou o método: abra-se inquérito e pronto!

O leitor, o telespectador e o ouvinte já ouviram à farta que uma delação só é aceita quando o delator apresenta “provas”. O termo é impróprio. A “prova” fica para o julgamento. É necessário apresentar alguns indícios, alguns sinais, de que a coisa se deu. Um exemplo: Leo Pinheiro considerou que o fato de dois veículos do Instituto Lula terem passado por um pedágio de Guarujá é uma evidência de que o tal apartamento pertence ao ex-presidente. É possível que Sérgio Moro considere isso uma “prova”? Tendo a responder “sim”. Num tribunal superior, acho que “não”. A ver.

Tempos normais, tempos de gritaria
Em tempos normais, vivendo a rotina da democracia, é possível que o procurador-geral da República — hoje, é Rodrigo Janot — tivesse deixado muita coisa para mais tarde, para dirimir as dúvidas. Ainda que não o fizesse, restaria a possibilidade de o homologador devolver esta ou aquela peças para o Ministério Púbico Federal com a recomendação: “Organizem esse troço”. Mesmo falhando o responsável pela homologação, ainda se poderia apostar no rigor do relator: Fachin. Mas parece que ele também descobriu a graça de cair nos braços da galera.

A lista do levantamento feito pela Folha não é pequena: Marconi Perillo, Edinho Silva, Aloizio Mercadante, Flavio Dino, Geraldo Alckimin, Paulo Vieira de Souza e Celso Russomanno.

Atenção para Palocci
E as coisas podem se complicar ainda mais. Quem assistiu sem atenção ao depoimento (vídeo aqui) de Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro chegou à conclusão errada, com o endosso da esmagadora maioria da imprensa, de que Lula será mesmo o principal alvo da eventual delação. Pois é… Em mais de um trecho, Palocci se mostra é disposto a afrontar a versão de Marcelo Odebrecht — um exemplo, no vídeo cujo link vai acima, está entre 29min15s e 55min.

Bem, quais são os desdobramentos? Como o Ministério Público Federal não fez direito o seu trabalho; como Cámen Lúcia não fez direito o seu trabalho, como Fachin não fez direito o seu trabalho, a batata quente, ao fim de tudo, ficará mesmo é para o STF. Ou alguém acha que dali sairão condenações sem a prova inequívoca do crime? Para a sua segurança, leitor, é melhor torcer para que a resposta seja “não”.

Ou por outra: todo mundo se dá o direito de buscar o aplauso fácil, e o Supremo, como instituição, que se vire depois com a reputação de que promove a impunidade.


Arquivado em:Brasil, Política


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