Paulo Skaf, candidato do PMDB ao governo de São Paulo, decidiu levar — aí, ai, ai — o tesão para a política. No horário eleitoral gratuito, com cabelos cuidadosamente implantados e mais negros do que as asas da graúna — como disse José de Alencar de Iracema, a virgem dos lábios de mel —, Skaf decidiu não avançar na jugular de Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, porque certamente se lembrou de que o tucano tem, hoje, 55% das intenções de voto.
Obedecendo certamente a uma orientação da marquetagem, mandou bala: “Não tenho nada contra o governador Geraldo Alckmin. Ao contrário: acho educado, simpático, mas, sinceramente, não entendo seu estilo de governar. Meio frio, meio distante, que acha sempre que está tudo muito bom”. E acrescentou, referindo-se ao tucano: “Não enfrenta os problemas de São Paulo como se fosse um desafio pessoal. Com garra, com tesão, como se fosse a coisa mais importante”.
Hein? “Tesão”? Skaf parece disposto mesmo a ser o candidato da “moçada”, né? Cuidado com os marqueteiros, candidato! Se alguém sugerir ao senhor que use uma calça de cintura bem baixa, deixando à mostra o elástico da cueca. Não iria pegar bem. Por que digo isso? Dia desses, nós o vimos repetir o lema do “Cumpâdi” Washington: “Não sabe de nada, inocente”. Passado mais algum tempo, foi ao ar um filminho parodiando aquela, digamos, “música” do lepo-lepo, óbvia metáfora do órgão genital masculino — também conhecido como “pênis”, numa expressão mais curtinha.
Ah, sim, claro! Podemos entrar numa pendenga linguístico-semântica — e terei muito prazer em fazê-lo se a tanto for convocado. “Tesão” também pode ser “ímpeto”, “intensidade”, “intrepidez”, “vontade”… Ora, quem não quer ser ambíguo escolheria, obviamente uma dessas palavras. Por que “tesão”? Acusei certa feita o machismo descabido de um colunista “progressista” que, sob o pretexto de atacar o dito reacionarismo de Sarah Palin, então candidata a vice na chapa do republicano John McCain à Presidência dos Estados Unidos, acusou-a de ser a “Boceta de Pandora”. Sim, “boceta” quer dizer “caixa”. Mas é evidente que só emprega essa palavra quem está em busca da ambiguidade e da proximidade com a palavra quase homógrafa, de sentido bem distinto. Como a evidente agressão era dirigida a uma mulher de direita, parecia tudo bem…
Mas retomo o fio. Recorre à palavra “tesão” quem está interessado no amplo espectro de seu sentido. E, aí, meus caros, sou obrigado a lembrar que quem governava com tesão — infelizmente para ele e quase que para os EUA — era Bill Clinton, né? Deixo claro! Prefiro que os governantes, homens e mulheres, tenham tesão, mas por seus respectivos parceiro, não pelo povo. Com alguma ironia, digo que, dada a frequência com que os políticos ferram o povo, o melhor seria que tivessem menos tesão por nós.
Mais decoro, senhor Skaf! Eu nunca o vi falar em “tesão” quando estrelava as propagandas institucionais do Sistema S. Ou o senhor diria que cuidava das escolinhas da instituição com “tesão”? Não ficaria bem! Se a palavra era descabida quando o senhor presidia a Fiesp, por que seria adequada quando se candidata a um cargo público?
Definitivamente, não é por aí.
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