A “pobre viúva” argentina sendo consolada por dois ogros machistas
Confesso ao leitor: estou cansado do uso e abuso da cartada sexual nas eleições. O que dizer da campanha do TSE para que mais mulheres participem do pleito, pois ainda temos poucas no poder em termos relativos? Se não é uma campanha “indireta” para o voto na até então única mulher disputando a cadeira no Planalto, não sei o que é. Agora complicou a vida de Dilma, pois são duas opções do sexo feminino…
Na verdade, o problema é mais amplo: a narrativa dos oprimidos, a luta das “minorias” contra o homem branco, heterossexual, ocidental e cristão. Esse é o vilão da história, e os demais são vítimas: negros, mulheres, gays, índios, islâmicos etc, o que, se somar, dá uma baita maioria, a ponto de os defensores das “minorias” terem de criar o conceito de “minoria social”.
A coluna de Marcelo Coelho na Folha hoje fala justamente da “força” das mulheres, em contraponto aos homens chorões. Como exemplo, ele cita “dona” Renata, viúva de Eduardo Campos, Marina Silva, também “viúva” de Eduardo Campos, só que do ponto de vista político, e Dilma Rousseff. Diz ele:
O clichê da “viúva inconsolável” vai sendo esquecido. Que o diga, aliás, a própria Marina Silva. Tomou para si o legado e as lutas de Chico Mendes, líder ambientalista assassinado em 1988; agora, sem ser exatamente uma “viúva” política de Eduardo Campos, vem a substituí-lo com a própria força renovada pelo imprevisto histórico.
Cabe falar ainda de outra mulher, a própria Dilma Rousseff. Goste-se ou não de seu governo e de sua pessoa, uma circunstância merece ser colocada, no meu modo de ver, acima de qualquer outra.
Lula, o machista, mandando votarem em Dilma porque é o que ele quer.
Refiro-me ao fato, que por diversos motivos não se explora nem se menciona suficientemente no confronto político, de ela ter sido torturada durante o regime militar. Sempre penso que, se isso tivesse acontecido comigo, eu seria incapaz de superar a experiência.
Eis que vemos Dilma priorizar, contudo, sua estratégia política, e os projetos de seu partido, sem tomar em termos pessoais o entusiasmo com que muitos de seus aliados (especialmente o ministro Edison Lobão) defenderam o que havia de pior na ditadura.
Dilma não explora sua condição de “vítima” do regime militar? Acho que Coelho precisa acompanhar melhor o que a “presidenta” diz. No mais, essa coisa de “viúva inconsolável” está bem longe de ter sido enterrada. Não vamos esquecer que a Argentina caminha rumo ao penhasco justamente com uma presidente eleita com base nessa exploração sensacionalista: a viúva triste, um tango e tanto.
Marina Silva não demonstra força ao assumir o legado – indevidamente – de Chico Mendes, e sim certo oportunismo. O mesmo ocorre agora, com a trágica morte de Eduardo Campos: seu próprio funeral foi um evento macabro de campanha eleitoral.
E Dilma, nossa primeira mulher presidente, mudando até a língua portuguesa para explorar a ideia, de onde veio Dilma? O “poste” que Lula, um homem com perfil machista inclusive, decidiu acender. Ninguém sabia nada da primeira mulher eleita, o que ela pensava de fato, pois era tudo insignificante: Lula era Dilma e Dilma era Lula, eis a mensagem.
Que força feminina é essa que depende de um homem – morto ou vivo – para se sustentar? Até quando vamos ser vítimas dessa exploração da “marcha dos oprimidos”? Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, levou muitos às lágrimas de emoção e ganhou até o Nobel da Paz antes de assumir o poder. Fez um governo medíocre e comandou bem mais bombardeios do que Bush, o belicoso. Como fica?
Marina Silva e Renata: dependentes de Eduardo Campos para mostrar “independência”
Que tal abandonar esses estereótipos, esses rótulos de “minorias”, e passar a olhar a capacidade individual, o talento, o histórico, a honestidade, todas essas características relevantes para um bom líder e que não dependem da cor da pele ou do sexo?
Não custa lembrar que Margaret Thatcher foi a primeira mulher a assumir o comando do Reino Unido e fez uma ótima gestão, mas não por ser mulher, e sim por ser corajosa, liberal na economia, e firme no combate às máfias sindicais – por isso mesmo nunca foi enaltecida pelos movimentos feministas, que não querem saber de nada disso, e preferem acusá-la de “Dama de Ferro”.
Uma mulher pode ser forte e ótima gestora. Mas nunca apenas por ser mulher. Tal critério não basta e não diz nada. As feministas deveriam aprender essa lição, e rejeitar aquelas mulheres que apelam para a cartada sexual, mas que no fundo dependem de um homem bancando sua imagem falsa de independência.
Rodrigo Constantino
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