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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cegueira inatencional: atenção seletiva e o gorila invisível


Quase todos conhecem o experimento do “gorila invisível”, que ficou famoso quando um vídeo com jogadores de basquete se espalhou pelo mundo, pois surge do nada um grande sujeito fantasiado de gorila, mas poucos notam sua presença. Estão muito focados no desafio proposto, de contar os passes de bola dos times.


Os autores do experimento são Christopher Chabris e Daniel Simons, ambos Ph.Ds em psicologia, um por Harvard e o outro por Cornell. O caso do gorila invisível abre o livro deles com o mesmo título, e que contém outros experimentos interessantes sobre as falhas de nossa intuição. Eles escrevem:


A ilusão de atenção afeta a todos, de diversos modos, do corriqueiro ao risco de vida – é realmente uma ilusão cotidiana. Ela influencia tudo, dos acidentes de tráfego e painéis de aviões aos telefones celulares, na medicina e até nas performances do metrô. O experimento do gorila ficou cada vez mais conhecido e tem sido usado para explicar inúmeras falhas de atenção, das concretas às abstratas, em diversas áreas. Não se trata apenas da atenção visual; a ilusão se verifica no mesmo grau em todos os nossos sentidos e até mesmo em questões mais amplas à nossa volta. O experimento do gorila é poderoso porque força as pessoas a se confrontarem com a ilusão de atenção. Ele fornece uma excelente metáfora justamente por conta do amplo alcance da ilusão de atenção.


É o que os autores chamam de “cegueira inatencional”. Devido ao nosso limite de tempo e recursos e o custo de atenção a tudo, tendemos a focalizar o pensamento para economizar energia. Normalmente, isso funciona bem, pois eventos inesperados são inesperados por uma boa razão: são raros. Mas quando eles ocorrem e impõem grandes consequências, aí ignorá-los pode ser fatal.


Isso veio à mente hoje quando vi a reação dos mercados ao governo tentando mudar a meta do superávit fiscal no Congresso, com amplo apoio do PMDB e da base aliada. O Ibovespa subiu! Confesso que esperava uma reação diferente, mais nervosa, pois isso é algo muito grave. Significa, como argumentei aqui, a destruição do último pilar do tripé macroeconômico, a morte da Lei de Responsabilidade Fiscal. No entanto, foi ignorado pelo “mercado”, pelos investidores. Por quê?


Não sei ao certo a resposta. Talvez a maioria dos investidores pense que isso já era esperado e que está no preço dos ativos, ou que é apenas uma medida temporária para compensar uma queda da atividade econômica. Sabemos como o desejo de crer pode ser mais forte do que a experiência e a razão somadas.


Mas uso a tese do gorila invisível como uma explicação alternativa: o “mercado” todo está atento a uma só coisa, basicamente: quem será o ministro da Fazenda novo? Esse nome nunca foi tão importante para definir qual rumo a presidente Dilma pretende adotar no segundo mandato. Estão tão atentos a essa questão, que talvez tenham deixado passar o gorila que dançou bem diante de seus olhos.


Enquanto debatem se vai ser Henrique Meirelles, Nelson Barbosa, Alexandre Tombini, ou algum outro nome dos mais cotados por aí, esqueceram de observar o gorila enorme que entrou na quadra, ou melhor, na Bolsa: o recado já foi dado pela presidente e seu governo, e não é nada animador.


Vem abandono total da responsabilidade fiscal aí, e isso não pode significar nada além de “mais do mesmo”, ou seja, Dilma continuará sendo… Dilma! Como celebrar uma coisa dessas?


Rodrigo Constantino







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