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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O impasse de Dilma


O que fazer quando, para permanecer no poder, foi preciso radicalizar à esquerda, mas para impedir uma catástrofe depois, faz-se necessário migrar mais à direita? É esse o dilema da presidente Dilma hoje.


Na campanha eleitoral, fez o primeiro mandato de Lula parecer coisa de “neoliberal” da gema, acusando até Marina Silva de pertencer à direita da elite e dos banqueiros. Mas agora, já reeleita, precisa tomar medidas que impeçam o Brasil de afundar de vez, o que certamente aconteceria se ela colocasse em prática as ideias da campanha.


A base de apoio, naturalmente e com razão, sente-se traída e está revoltada. Afinal, estamos falando de “estelionato eleitoral” sim, sem sombra de dúvida. Os tucanos iriam subir juros, preço do combustível, tarifa de energia elétrica e colocar alguém ligado aos bancos no comando da economia. Reeleita, Dilma faz exatamente isso. E não espera revolta dos seus?


A vanguarda do atraso iria se manifestar, claro. E o fez. Intelectuais e ativistas lançaram um manifesto contra as escolhas de Dilma para os ministérios, especialmente Joaquim Levy para a Fazenda e Kátia Abreu para a Agricultura. Chamam as medidas da presidente de “regressão da agenda vitoriosa nas urnas”.


Encabeçado pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, pelo líder do MST, João Pedro Stédile, e pelo teólogo Leonardo Boff, o manifesto afirma que a oposição não deu tréguas após a derrota nas eleições, “buscando realizar um terceiro turno em que seu programa saísse vitorioso”. E diz que a presidente Dilma “parece levar mais em conta as forças cujo representante derrotou do que dialogar com as forças que a elegeram”.


“Os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas”, diz o manifesto.


O texto cobra uma participação da sociedade civil nos rumos do governo: “As propostas de governo foram anunciadas claramente na campanha presidencial e apontaram para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A sociedade civil não pode ser surpreendida depois das eleições e tem o direito de participar ativamente na definição dos rumos do governo que elegeu”.


Dilma flertou com o que há de mais retrógrado na esquerda nacional, e fez seu jogo, ao acusar qualquer bom senso econômico de “neoliberalismo”. Agora colhe o que plantou. Tenta adotar a tática do violino, pegar o poder com a mão esquerda e tocar com a direita, mas ignora que a mentira desperta a revolta em quem nela acreditou.


Eis o impasse de Dilma, criado por ela mesma: continuar com seu discurso de campanha e afundar de vez o Brasil, seguindo os passos defendidos pela esquerda chavista, ou trair seus eleitores e agir mais como uma tucana, alguém que, apesar de ser de esquerda, respeita o mínimo das leis econômicas e da economia de mercado.


Qual vai ser o resultado desse impasse? Só Deus sabe! Mas eu já deixei claro aqui que não sou muito otimista quanto às mudanças de Dilma. Acho que os eleitores típicos que se sentem traídos estão se preocupando em demasia, infelizmente…


Rodrigo Constantino







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