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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Hillary deve se eleger hoje presidente dos EUA. Trump, mitos e mitologias políticas

Se as apostas majoritárias estiverem certas e se as pesquisas não falharam também nos EUA — as redes sociais tornaram relativos até os absolutos; imaginem então as estimativas, ainda que com base em modelos matemáticos —, Hillary Clinton garantirá o terceiro mandato consecutivo aos democratas.

Os republicanos nunca mais encontrarão um adversário tão frágil. Mas o partido escolheu: Donald Trump. E os que fizeram essa opção sabiam muito bem quem era ele. Os adversários internos e o establishment republicano se encarregaram, a tempo, de evidenciar suas fragilidades. Tudo inútil. Caspa no ombro de um populista é um ativo. Assim como o lanche de mortadela no bolso. Trump não tem o populismo pobre e bagaceira de um Jânio Quadros. A sua retórica é muito mais virulenta. Mas também ele ignora o mundo real para combater fantasmas.

À medida que a disputa interna entre os republicanos avançava, notava-se o assombro de analistas e da imprensa. Revelações incômodas do passado de Trump, retórica intempestiva, simplificações grosseiras… Aquilo tudo que poderia ser mortal a outros candidatos só o fortaleciam. Ali estava o bilionário arrogante que, não obstante, soube encarnar o papel de vítima dos bem-pensantes e das elites permissivas que destruiriam a verdadeira América — inclusive aquelas supostamente abrigadas no próprio Partido Republicano.

À medida que o tempo passava, Trump começou a ser uma birra. Bem, se tantos, inclusive a imprensa, asseguram que ele não é bom e se ele diz “verdades” tão elementares sobre os EUA de hoje, então ele deve estar certo, e tudo o que se fala contra ele não passa de um preconceito. Quando mais a imprensa tratava Trump como um vigarista intelectual, mais ele se fortalecia. Há certo tipo de populista agressivo para o qual não há notícia ruim. Ou há um apenas: não parecer durão.

E ele chegou à reta final com chances reais de se eleger presidente dos EUA, ainda que, tudo indica, as de perder sejam bem maiores — para o bem daquela naçã0 e, a se dar crédito a suas palavras, do mundo.

Caso se concretize a vitória de Hillary, qual será o comportamento daquele eleitor que se sentia representado pelas soluções simples e erradas de Trump? Continuará em busca do novo demiurgo? As previsões apocalípticas da extrema direita americana com a eleição de Obama não se cumpriram. Mas isso, vejam que coisa, não levou os republicanos a uma modernização do discurso. Ao contrário: este se tornou ainda mais reacionário.

E não que Trump seja um fenômeno desconhecido da sociologia. Em “Mitos e Mitologias Políticas”, o pensador Raoul Girardet aponta aqueles que são os principais marcos do discurso da manipulação populista, geralmente de corte autoritário. Segundo Girardet, os assassinos da razão investem nos seguintes mitos:
– prometem a Idade do Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.

Se notarem bem, vale para um populista de direita, como Trump, ou para um populista de esquerda, como Lula. Se gente assim prospera, o que se tem é o óbvio: degradação institucional. E, por óbvio, não se resolve nenhum dos problemas que o líder carismático apontou — alguns deles, sem dúvida, verdadeiros. A solução é que costuma estar errada.

Hillary está longe de ser a figura dos meus sonhos para governar a nação mais importante da Terra. Mas é o que os americanos nos ofereceram para o momento. Trump não dá. É um fanfarrão das próprias ambições e um demagogo a serviço do recalque, da desinformação e da ignorância.

Não é um posto qualquer. O mundo estará mais seguro com ela do que com ele. Isso deveria bastar para definir uma escolha.



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