Quem vai substituir Mantega, ou seja, Dilma?
Os mercados não só se acalmaram ontem, como entraram em festa. O Ibovespa recuperou toda a queda do dia anterior e fechou com alta de 3,7%. No primeiro dia após a reeleição de Dilma, o índice chegou a cair mais de 6% durante do dia, mas depois eliminou metade das perdas. Qual o motivo? Dilma, afinal, não será tão ruim assim na economia?
Calma. O que aconteceu foi que circularam vários rumores de que a escolha da equipe econômica não seria tão ruim, e que haveria alguma mudança de política, endossada pela própria presidente, sem precisar qual. Nomes como o do ex-minstro Antonio Palocci foram ventilados pelos investidores. Ou Luiz Trabuco, presidente do Bradesco. Até mesmo Eduardo Loyo para o Banco Central chegou a ser cogitado, alguém que era praticamente certo na equipe de Arminio Fraga.
Quais as chances de isso acontecer? Em primeiro lugar, vamos ter de constatar um fato: se Dilma for mesmo por esse caminho, e aceitar colocar até mesmo um banqueiro no ministério da Fazenda, estaremos diante do maior estelionato eleitoral da história. Sei que os investidores, desesperados com a alternativa muito pior, que seria Dilma continuar sendo… Dilma, preferem essa opção. Mas para efeito pedagógico de nossa democracia seria um caos.
O que significaria alguém ter o direito, o aval e a licença dos mercados para fazer a campanha mais sórdida, populista e demagógica de todas e depois simplesmente ignorar cada coisa dita? Quer dizer que Dilma pode colocar um vídeo de comida desaparecendo da mesa dos pobres porque o concorrente apontaria um banqueiro para a economia, e logo depois de vencer anunciar… um banqueiro? E o Brasil vai apenas aceitar que isso é parte do jogo? Um jogo abjeto de vale tudo?
Se ela for mesmo por esse caminho, temos somente dois tipos de eleitores do PT, e nada mais: aqueles alienados o suficiente a ponto de cair em um embuste enorme desses; ou aqueles indecentes o suficiente para saber que era apenas embuste eleitoral para conquistar o voto dos alienados, mas não ligam a mínima, pois acham válido fazer o “diabo” para permanecer no poder. Não consigo pensar em uma terceira alternativa.
Dizem que Lula pretende ter uma voz maior no segundo mandato de Dilma – se não houver impeachment – e que já teria aceitado ser o candidato em 2018. Para isso, quer pavimentar o caminho, e teria exigido da presidente uma suavizada na política econômica desenvolvimentista, abandonando parcialmente a “nova matriz macroecobômica”, responsável por este retumbante fracasso atual (que, novamente em um grande embuste eleitoral, a campanha de Dilma jogou na conta de uma suposta crise internacional).
Talvez venha um nome mais amigável mesmo, sob pressão de Lula, que tem mais bom senso que Dilma quando se trata de economia – o que não é nada difícil. Mas será que ela aceita? Será que Dilma topa abrir mão de ser ela mesma, a arrogante economista que acha que entende do assunto? Afinal, sabemos que era ela a responsável pela economia, não Guido Mantega, um pobre garoto de recados, muito menos Alexandre Tombini, ali para executar ordens do Planalto. Dilma vai fazer esse reconhecimento público de que foi uma desgraça como gestora da economia?
Um nome forte, sob a perspectiva do mercado, teria de ter autonomia de fato, caso contrário a euforia de ontem será dissipada em dois tempos, transformando-se em pânico novamente. Mudança real, não para inglês (ou investidor) ver. Aí vem outra questão: quem aceitaria? Como colocou Marcelo Madureira em evento recente de que participamos, é como convidar alguém para ser capitão de um navio afundando. Quem encararia assumir o Titanic?
Acho pouco provável que venha um nome realmente de peso, por esse motivo, e por achar que Dilma não aceita abrir mão facilmente do controle da economia, nem mesmo a pedido de Lula, seu criador. Alguns nomes que também circularam parecem mais prováveis, mas não seriam comemorados pelos mercados. Nomes como Jaques Wagner, governador da Bahia, Nelson Barbosa ou Murilo Ferreira, da Vale.
Alguns outros que entraram na bolsa de apostas seriam caóticos se confirmados, como Luiz Gonzaga Belluzzo e Aloizio Mercadante. Nesses casos, acho que o Ibovespa cairia no mínimo uns 10%, e seria apenas o começo. Mas sem dúvida teriam muito mais a ver com o perfil de Dilma.
De qualquer jeito, sabemos que estamos diante de um governo mentiroso e incompetente. A questão aqui é saber qual é maior: se a mentira for maior, os mercados ficarão mais calmos, e a democracia brasileira sairá bastante arranhada; se a incompetência ideológica for maior, os mercados entrarão em pânico, a economia sofrerá muito, e o eleitor de Dilma terá aquilo que merece, pois escolheu a porcaria consciente. O problema é que arrastará todos nós, mais esclarecidos, juntos…
Rodrigo Constantino
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