Carlos Alberto Di Franco tem sido um incansável defensor da liberdade de imprensa, sob constante ataque do governo desde os primeiros anos da gestão do PT. Em sua coluna de hoje no GLOBO, Di Franco eleva o tom e soa o alerta, deixando claro o risco que essa liberdade corre, ao mesmo tempo em que pede à própria imprensa que reaja da melhor forma possível: fazendo seu trabalho com seriedade. Diz ele:
Lula manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa independente. Seus sucessivos e reiterados ataques à mídia, balanceados com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder a verdadeira face dos que, mesmo legitimados pela força do processo eleitoral, querem tudo, menos democracia. Para Lula, um político que deve muito à liberdade de imprensa e de expressão, imprensa boa é a que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda e deve ser extirpado. Preocupa, e muito, o entusiasmo de Lula, da presidente Dilma e de seu partido com modelos políticos capitaneados por caudilhos. Cuba e Venezuela, ditaduras cruéis e antediluvianas, são o modelo concreto da utopia petista.
A fórmula Lulinha e Dilminha paz e amor acabou. Agora, com o Estado aparelhado, o Congresso ameaçado pelo decreto de Dilma que inaugura a governança via conselhos, obviamente controlados pelo governo, e a imprensa fustigada, o lulismo mostra sua verdadeira cara: o rosto do caudilhismo.
O jornalismo não deve cair na armadilha da radicalização, mas fomentar a discussão das políticas públicas. Vamos romper a embalagem do marketing político e da propaganda avassaladora. Vamos contrastar o discurso oficial com a realidade concreta. Os protestos crescentes, alguns francamente impróprios e deselegantes, enviam recados muito claros: o povo flagra a mentira no emagrecimento do seu poder de compra, nas filas do SUS, na frustração de uma educação que não forma gente preparada para a vida. A sociedade está perfilando a verdadeira e correta agenda eleitoral.
A tentação de cair no jogo do PT e baixar o nível do “debate” é grande. As redes sociais causam esse efeito de radicalização, inclusive com mentiras e exageros de todo lado. Uma reportagem do mesmo jornal mostra hoje como os candidatos se preparam para a trincheira digital, esperando uma chuva de ataques e ofensas, incluindo perfis falsos feitos para destruir reputações. Diz o jornal:
A desinformação, explicou um oficial do Exército especialista em inteligência, é considerada uma arma de guerra. Uma mentira bem contada, garante, pode levar a vítima a tomar outra atitude. Em eleições passadas, os candidatos sentiram a força do terrorismo digital. Geraldo Alckmin (PSDB) foi acusado, nas eleições presidenciais de 2006, de pretender a privatização da Petrobras. Nas eleições seguintes, foi a vez da candidata Dilma Rousseff se ver envolvida em boatos de que defendia o aborto. Ao migrar este ano da caixa de e-mails para as redes sociais, que vivem um boom, a desinformação terá agora um potencial de estrago bem maior.
“Uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade”. Esse era o mantra de Goebbels, responsável pela estratégia de marketing do nazismo. Nos exemplos acima, há um detalhe: Alckmin não ia privatizar a Petrobras, e isso era terrorismo eleitoral do PT. Já o PT de Dilma realmente tem uma grande ala defensora do aborto.
O impacto das redes sociais na sociedade foi o tema da coluna de Luiz Felipe Pondé na Folha hoje também, e ele reconhece o perigo de seu radicalismo. Com base na polêmica pesquisa realizada com os usuários do Facebook (sem sua autorização ou conhecimento), o filósofo conclui:
O resultado foi que as emoções se espalharam “na velocidade da luz” provando que nas redes sociais emoções positivas e negativas se espalham indiscriminadamente, levando os usuários a repetirem (postarem) as emoções que receberam via Facebook.
O impacto é claro: as redes sociais são um veículo poderoso de reprodução de comportamentos que podem facilmente se tornar violentos. Vide o que aconteceu com a infeliz falsa “bruxa” do Guarujá.
Resistir a essa tentação é o grande desafio da imprensa séria e independente. Ao mesmo tempo, ela não pode cair na tentação de um pseudo-neutralismo, incapaz de apontar com coragem fatos incômodos tanto para a maioria como para o governo.
Não é seu papel instigar a polarização das redes sociais, em boa parte fomentada pelo próprio PT. Mas é sua função expor a face do caudilhismo de Lula, sem paixão, com objetividade. Se, por medo do governo ou das redes sociais, a imprensa tentar “dourar a pílula” ou ocultar essa face, ela estará não só traindo seus leitores, como dando um tiro no próprio pé.
Rodrigo Constantino
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