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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

OS DEPUTDOS E O IMPEACHMENT – Infelizmente, números do Datafolha, dada a forma da pesquisa, mais confundem do que informam

O Datafolha fez uma pesquisa para saber o que pensam os deputados sobre o impeachment. Foram ouvidos, informa o instituto, 315 dos 513 deputados — ou 61,4% do total. Segundo entendi a partir de uma nota explicativa, as percentagens divulgadas correspondem aos “resultados ponderados segundo as bancadas dos partidos”. E aí se conclui, então, que 42% são favoráveis ao impeachment; 31%, contrários, e 27% não se posicionaram. Em razão disso, texto da Folha conclui que “a decisão está nas mãos de uma parcela de 27% dos deputados, o equivalente a 138 parlamentares”.

Para lembrar: são necessários 342 votos para a Câmara autorizar o Senado a abrir o processo de impeachment. Se houvesse mesmo 42% apenas hoje favoráveis, seriam 215 deputados. Ainda faltariam 127. Mas não há critério técnico que autoriza a fazer essa conta.

Vamos lá. Acho que o Instituto comete um erro importante de método, que resulta de uma premissa ainda mais equivocada. Segundo a nota explicativa, o instituto escolheu ponderar o resultado “porque a filiação é uma variável importante na definição do voto”.

Não dá para ser assim. Numa votação nominal e aberta, com os ânimos inflamados, pode-se falar em “tendência” apenas no PT, que será unanimemente contra, e no PSDB, unanimemente a favor. Pegue-se o caso do PMDB: alguém se arriscaria a dizer que uma amostra de deputados do partido representa uma tendência da legenda? O partido não consegue saber direito nem quem é o líder.

Acho que o Datafolha deveria matar a curiosidade dos leitores e informar, dos 315 ouvidos, quantos, afinal, dizem “sim” ao impeachment e quantos dizem “não”. Os números, como estão divulgados, mais desorientam do que informam uma tendência.

Diz o texto do jornal que a decisão está nas mãos de 27% dos deputados — 138 do total. Mas como pode ser isso se 198 não foram ouvidos? É evidente que num colegiado de 513 pessoas, que votarão aberto (ou 512, já que o presidente se abstém), não se podem usar os critérios de amostragem de levantamentos convencionais. Tanto é assim que o instituto nem divulgou margem de erro.

Melhor faria o Datafolha se desse os números absolutos — quantos disseram “sim”, “não” e “não se posicionaram” —, transformando a ponderação numa segunda leitura, interpretativa: “Se a filiação partidária contar, então, pode-se dizer que…” Uma outra leitura possível seria pegar o número absoluto de “sim”, “não” e “não se posicionou”, considerar que foram ouvidos apenas 61,4% do total e se fazer a projeção para 100%. “Ah, mas as bancadas têm pesos diferentes”. É verdade? Mas quem disse que vai contar voto de bancada nesse caso?

Ora, deem-nos os números obtidos. Não há nenhuma razão técnica para não fazê-lo.



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