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domingo, 6 de julho de 2014

As lições da Copa para a nossa economia


O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco tem uma rara habilidade para um economista: consegue mastigar conceitos complexos de forma que os leigos no assunto possam compreender perfeitamente a mensagem. Foi o que fez com maestria em sua coluna de hoje, em que comparou a Copa com a economia e extraiu quatro lições muito importantes que podemos aproveitar para nosso desenvolvimento.


A primeira delas é a vantagem da globalização. Ao contrário do que dizem as esquerdas, a globalização não é um monstro, mas sim um instrumento poderoso e encantador, ao aproximar diferentes culturas e permitir um enriquecedor intercâmbio. Aproxima países menores e mais podres de países ricos ou grandes.


Ficar de fora desse processo é letal, representa abrir mão de algo fantástico que pode impulsionar nosso avanço. O que vale para o futebol vale também para a economia. No entanto, o Brasil ainda é um país de economia extremamente fechada e protegida pelo estado da livre concorrência global. A abertura comercial traria para a economia as vantagens que vemos com a globalização do evento futebolístico.


A segunda lição é a competitividade. O futebol é uma atividade democrática, em que os menores podem, por meio de esforço e aprendendo as táticas dos maiores, jogar quase de igual para igual. Não há mais jogo fácil. As “zebras” comprovam isso. Quem diria que Costa Rica daria tanto trabalho? Ou o Chile? Ou Colômbia?


Os times ficaram mais parecidos, apesar de diferenças nas vantagens comparativas. A concorrência leva ao contínuo esforço pela melhoria da competitividade. Isso é um corolário do primeiro ponto, a globalização. Se os países adotassem um esquema de “conteúdo nacional”, e os jogadores não rodassem o mundo em um futebol cada vez mais internacional, teríamos apenas mediocridade em campo.


A terceira lição é o foco no consumidor. A Fifa tem mil defeitos, mas uma qualidade é inegável: ela sabe organizar um evento voltado para o público. Não podemos dizer o mesmo de nossos campeonatos organizados por cartolas, cujo público é uma preocupação secundária na melhor das hipóteses.


A Copa do Mundo é um evento feito para agradar ao grande público, que vai em busca de jogos emocionantes, com regras claras e impostas, para ver um resultado meritocrático com base no “fair play”, sempre que possível (errar é humano). Como diz Gustavo Franco:


A primazia do cliente, como os telões colocados nos estádios, é novidade por aqui. As imagens do público e suas emoções se juntam aos dribles e aos gols, pois tudo é parte do mesmo espetáculo. O telão é o “selfie” da multidão, matéria de grande interesse de todos, pois equaliza os anônimos às estrelas e coloca o público no interior da festa e da foto. Vale tudo pelo aplauso, e um público satisfeito significa bilheteria gorda, patrocínio abundante, e espetáculos cada vez melhores. Assim é a lógica da economia de mercado.


A quarta lição é o gasto público sem qualidade. O brasileiro se mostrou irritado com o alto custo do evento, em boa parte bancado pelo governo. Ficou ainda mais irritado com os “elefantes brancos” que não terão uso depois. O brasileiro comum pode agora ter uma clara visão do que os economistas condenam nas finanças públicas em geral, a falta de escrutínio, pois lida com recursos da “viúva”, os desvios, a falta de senso de prioridade quando se trata de recursos escassos. Nas palavras do autor:


Tudo se passa como se houvesse uma fonte brotando do solo, uma riqueza real ou simbólica inesgotável, uma pródiga mina de ouro ou poço de petróleo, quem sabe uma gaveta mágica na mesa do ministro da Fazenda, ou algum artifício contábil de multiplicação de pães, ou ainda uma viúva milionária, tola e disposta a assinar qualquer cheque que lhe for solicitado.


Com a Copa, o brasileiro pode compreender melhor o risco de se gastar dinheiro “sem dono”, especialmente em um país como o nosso, sem as instituições adequadas para mitigar os abusos por parte das autoridades.


Eis as quatro lições apontadas por Gustavo Franco: as vantagens da globalização, a importância da competitividade em um mundo meritocrático, o foco no cliente possível com o livre mercado, e os enormes riscos dos gastos públicos. “Em resumo”, diz Franco, “o legado econômico da Copa poderá ser muito rico se tivermos o descortino de tirar o devido proveito dos erros e dos acertos, sem as fanfarronices”.


Rodrigo Constantino







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