Alguns leitores reclamam quando saio do assunto econômico e escrevo sobre valores morais. Uns chegam até a afirmar que não sou mais um liberal por fazer isso. Discordo totalmente. A economia livre não se sustenta num vácuo de valores morais. Aliás, a sociedade como um todo não sobrevive sem códigos morais decentes, sem a valorização de comportamentos éticos.
A luta pela liberdade é, acima de tudo, cultural. E no cerne disso está a família. Todo regime autoritário e totalitário tentou destruir o núcleo familiar. Claro que o ataque à família enquanto instituição e à sua importância em transmitir os valores morais de geração em geração não é sempre consciente e deliberado. Mudanças sociais e culturais advindas de avanços tecnológicos também ocorrem, nem sempre com resultados apenas positivos.
Um dos meus autores preferidos, que foca bastante nessa questão, é o médico britânico Theodore Dalrymple. Ele mostra como a decadência de valores morais e da família está no epicentro de inúmeros problemas sociais e econômicos do Reino Unido, que outrora foi um império invejável e ícone do mundo livre.
Em artigo publicado hoje no GLOBO, Carlos Alberto di Franco segue na mesma linha de Dalrymple, argumentando que a crise familiar é a grande responsável por vários riscos, entre eles uma possível explosão de violência juvenil. Seguem alguns trechos de seu importante alerta:
O crescimento da Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas castigam a juventude. A deterioração econômica exacerba o clima de desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais (educação, saúde, segurança, transporte) gera muita frustração. Para muitos jovens os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida.
[...]
A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento, que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores. Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência das políticas públicas e a inexistência de expectativas.
[...]
As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados e paralisados, a uma espiral de violência sem precedentes. O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
[...]
O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.
Rodrigo Constantino
from Rodrigo Constantino - VEJA.com http://ift.tt/1jExs8B
via IFTTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário