O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o Brasil não está condenado a ter inflação acima da meta:
Numa tentativa de aplacar as recentes críticas ao trabalho do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, presidente da instituição, disse nesta terça-feira que o Brasil não está condenado a ter inflação acima do centro da meta de 4,5%. Durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, ele avaliou como temporária a alta dos preços dos alimentos por causa dos efeitos climáticos. O discurso aos parlamentares foi visto pelo mercado como um indicativo de que a alta de juros continuará.
— Não há nada que nos condene a ter a inflação acima da meta — disse duas vezes o presidente do BC.
A fala de Tombini tinha endereço: economistas do mercado financeiro que atacam a autarquia por ser leniente com a inflação e a acusam de ter uma “meta paralela” de 5,5%. Do fim de 2009 até hoje, o IPCA aumentou e se descolou do objetivo oficial, mas ficou dentro da margem de tolerância de dois pontos percentuais.
Eu concordo com Tombini. Em parte. Bem, na verdade, concordo apenas com a afirmação em si, de que o Brasil não está condenado a ter uma inflação alta. O Chile, o Peru, o México e a Colômbia, só para ficar na América Latina, crescem mais do que a gente com inflação bem menor.
Mas Tombini insiste que o problema está em fatores exógenos, em “choques temporários”. Nada mais falso. Tal desculpa esfarrapada remete ao saudoso Roberto Campos: “Os que creem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu”. Tombini está perdido.
Não reconhece, por exemplo, que a tentativa do governo Dilma de derrubar a taxa de juros artificialmente na marra tem tudo a ver com a alta inflação de hoje. Ou que os malabarismos contábeis do Ministério da Fazenda destruíram a credibilidade do governo. Ou que a subserviência do próprio BC, sem autonomia operacional, desancorou as expectativas inflacionárias dos agentes de mercado. Ou que os gastos públicos crescentes jogam lenha na fogueira inflacionária. Ou que o crescimento do crédito estimulado pelo governo tem ligação direta com a alta generalizada dos preços, mesmo com crescimento econômico medíocre.
Em outras palavras, não estamos condenados a ter alta inflação, pois não há nada em nosso DNA que nos obrigue a isso. Desde que tudo no governo atual mude. Desde que o governo mude! Desde que o BC recupere sua independência, os gastos públicos sejam reduzidos, o crédito pare de crescer tanto, os malabarismos contábeis cessem, o nacional-desenvolvimentismo dê lugar ao liberalismo ortodoxo.
Afinal, inflação é um processo deliberado produzido e controlado pelo governo, ninguém mais. É uma escolha política. E o Brasil não está condenado a essa escolha, a esse modelo equivocado, a esse governo, ao PT. Podemos mudar, sim. Aliás, outubro vem aí justamente para isso…
Rodrigo Constantino
from Rodrigo Constantino - VEJA.com http://ift.tt/1d0tgAo
via IFTTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário