Em sua coluna de hoje na Folha, Delfim Netto ataca a visão esquerdista arcaica de que o estado deve ser dono de empresas e que isso é “socialismo”. Delfim, como meus leitores já sabem, tem o dia de médico e o dia de monstro. Depende, portanto, da lua. Há que se tomar cuidado. Mas se entendi corretamente seu texto, trata-se de um duro ataque aos defensores da estatização como caminho para o socialismo. Logo no começo ele já descasca a turma:
Tristes e lamentáveis notícias emergem dos descuidos da Petrobras na compra de uma refinaria no exterior. Desde sempre uma velha esquerda que namora a construção de uma economia centralizada, que ela pensa ser o “socialismo”, o identifica com uma organização por meio de “empresas de propriedade do Estado”.
O problema é que qualquer economista razoavelmente bem informado sobre a sofisticada discussão teórica dos anos 20/30 do século passado a respeito da possibilidade de se construir uma economia centralizada eficiente, sabe que não é possível organizá-la (“racionalmente”) sem o uso das informações produzidas pelos “mercados”. O colapso da URSS, depois de 70 anos de um desenvolvimento material sem atender à exigência básica do processo civilizatório, que é a mais completa liberdade de iniciativa individual, foi uma espécie de prova empírica do prognóstico teórico.
Em seguida, Delfim defende o funcionamento de um mercado mais livre, sem ser uma panaceia, dependendo de um estado forte e com escopo constitucionalmente limitado. Mas ainda assim um mercado que possa cumprir seu papel, sem ser asfixiado pelo próprio estado.
Por fim, o economista mergulha em suas experiências passadas, na Iugoslávia, mostrando que as estatais eram empresas aparelhadas, com forte “espírito de corpo” que as impedia de ver seu atraso tecnológico e realizar mudanças. Apelavam inclusive para contabilidade criativa. Não havia possibilidade de compromisso com o futuro dessas empresas, ou qualquer tipo de problema ético em “deixar a sucata para a próxima geração”.
É o que costuma acontecer com empresas “sem dono”, lembrando que aquilo que é de todos, não é de ninguém. Delfim alfineta com ironia à guisa de conclusão: “Ver qualquer semelhança nas lambanças da Petrobras, que até ontem foi politicamente aparelhada, com alguma empresa iugoslava dos anos 70 é, obviamente, pura maldade…”
Não há como ler seu texto e não pensar que o autor faria coro aos liberais: Privatize Já!
Rodrigo Constantino
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