A presidente Dilma, em meio à confusão, recebeu nesta segunda à noite presidentes e líderes de partidos da base aliada para um churrasco no Palácio da Alvorada. Tem lá a sua graça, vamos admitir, no dia em que o PT recendeu literalmente a carne queimada, com a prisão de José Dirceu — nome proibido no encontro. A ordem do Planalto é para que o governo fique distante do assunto. O Zé que se vire. “O primeiro dever do estadista é a ingratidão”, teria dito Charles de Gaulle. Só falta a Dilma, agora, ser estadista. Segundo os presentes, a governanta quis deixar claro que está disposta ao diálogo — bem, caberia perguntar se ela tem alternativa.
Um dos convivas chegou a sugerir que até mesmo um diálogo com Eduardo Cunha estaria entre as possibilidades — a questão é saber se ele quer. Enquanto o churrasco acontecia, o presidente da Câmara (PMDB-RJ) se ocupava de outra coisa: a composição das duas CPIs, já aprovadas, que apavoram o governo: a do BNDES e a dos fundos de pensão.
Ao Globo, Cunha disse não ver óbice em que possam eventualmente ser comandadas pela oposição. Embora tenha lembrado que o bloco liderado pelo PMDB tem preferência na escolha dos cargos por ser o maior, especulou sobre a possibilidade de oposicionistas assumirem as comissões: “Se estiver dentro de cada bloco e for cedido, em composição com os outros partidos do bloco, não é nada impossível. Até porque tem que acabar com essa história. No ano passado, a CPI dos cartões corporativos, o PSDB presidiu. Não tem nada demais, qual o problema?”
Se, no churrasco da carne queimada, Dilma voltou a pedir o apoio dos líderes da base contra a chamada pauta-bomba, Cunha negava a existência do, digamos, explosivo político: “Essa história de dizer que tem pauta bomba é para constranger a gente para não exercer o papel que estamos exercendo. Os projetos vão para o plenário com o consenso do colégio de líderes. Não existe esse negócio de que eu sou o dono da pauta e faço a pauta de acordo com a minha vontade, que tenho o intuito de retaliar o governo pela minha posição de oposição”.
Uma informação objetiva, reconhecida até pelos adversários de Cunha: ele, de fato, é absolutamente fiel ao que é decidido pelo Colégio de Líderes. O problema é que a interlocução do governo é um desastre.
Enquanto Dilma desfilava sua tranquilidade no Churrasco da Ilha Fiscal, Cunha cobrava medidas efetivas de governança. Defendeu o corte de ministérios e de cargos comissionados: “Se o governo não faz sua parte, não dá exemplo, não pode cobrar dos outros, seja através de aumento de impostos ou outros pacotes de gastos. O governo não cortou despesas, cortou investimentos. Agora, que não corte só os ministérios que não sejam do PT”, afirmou.
Entre uma picanha e uma maminha, Dilma procurou aparar as pelancas da ingovernabilidade com representantes dos partidos da base. Falta agora combinar com os russos.
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