É POR ELA que queremos o ajuste fiscal: para que possa voltar a colocar mais comida na mesa da família!
Escrevi hoje uma resenha do excelente e necessário The Conservative Heart, livro do presidente do IEA Arthur C. Brooks, no qual ele argumenta sobre a importância de os conservadores e liberais clássicos melhorarem sua comunicação com as massas, aprenderem que é importante deixar o linguajar econômico e técnico um pouco de lado para abraçar valores morais e contagiar com sonhos e esperança, sempre demonstrando compaixão com os mais pobres e senso de justiça, além de disseminar uma mensagem positiva. Não pede uma direita populista, mas mais popular. Ataques virulentos aos adversários ganham curtidas, mas falam aos já convertidos, sem seduzir a maioria indecisa.
Como evidência do próprio ponto do autor, o texto teve bem menos visitas e curtidas do que um em que, por exemplo, ataco diretamente o humorista Gregorio Duvivier, chamando as baboseiras em sua coluna de “amontado de lixo” (o que foi confundido por muitos como uma expressão para definir o próprio humorista, algo que não é do meu feitio). Ou seja, o público quer ver o circo pegar fogo, quer xingamentos, confronto, sangue. As redes sociais potencializaram o fenômeno, sem dúvida. Tudo legítimo como desabafo, mas será que é mesmo a melhor estratégia para persuadir a maioria das vantagens do capitalismo liberal?
Sem dúvida não. E chega um momento em que é preciso decidir: queremos o regozijo de espinafrar os hipócritas e/ou ignorantes, ou queremos resultados melhores, o que passa por atrair a massa de gente que simplesmente não liga muito para política e quer apenas uma qualidade de vida melhor? Depende do mood do dia, admito. Mas aceito os argumentos de Brooks de forma geral, e acho que faz mais sentido focar na segunda estratégia, o que demanda uma forma mais amigável e construtiva, em vez de massacrar os inocentes úteis ou desonestos.
Como um exemplo disso, temos a coluna da economista Monica de Bolle na Folha hoje. Ela foge do “economês”, algo raro quando se trata de economistas mais ortodoxos, e foca naquilo que interessa: o que significa, para a classe C, o tal “ajuste fiscal”, que muitos sequer sabem dizer o que é? O uso recorrente de expressões como PIB, déficit fiscal e dívida pública não ecoa nem nas mentes dos leitores, quiçá em seus corações! Mas quando falamos que uma medida do governo é necessária para preservar o emprego dos mais pobres e seu acesso ao básico, isso chama mais atenção, sem dúvida.
Monica tenta, então, cobrar da presidente que fale de forma sincera sobre o que está em jogo, e diz que o desencontro entre discurso do governo e percepção da realidade por parte dos eleitores é o que tem agravado a crise:
Questionadas sobre acreditarem que o governo fazia o mesmo que elas quando o orçamento minguava, a resposta foi um categórico não. Alguns disseram que, em vez de cortar despesas, o governo aumenta impostos; outros afirmaram que o governo “toma do trabalhador”; uns tantos falaram que o governo pega empréstimos; por fim, um punhado foi taxativo: “O governo rouba”.
Neste momento em que muitos confundem a baixa aprovação do governo com uma não comprovada vontade popular de que Dilma deixe o cargo, a percepção da população sobre o ajuste fiscal é mais do que relevante. Se o governo soubesse explicar que aquilo que está tentando fazer é mais ou menos semelhante ao que as famílias fazem quando falta dinheiro no fim do mês, a instabilidade imprevisível que assola o país talvez pudesse ser amenizada.
Acho que Monica se engana aqui num ponto: o desejo de que Dilma deixe o cargo é bem comprovado sim, por pesquisas, e não acho que seja fruto de confusão. Os eleitores se sentem, com toda razão, traídos, cansados do cinismo do PT, das mentiras, da incompetência, da corrupção. Mas entendo que a oposição mais conservadora e liberal (quase inexistente na política nacional) deve fazer uso dessa linguagem mais direta, que o povo, conforme a pesquisa, compreende. Ou seja, é hora de deixar claro que o governo está roubando o trabalhador por não reduzir seus próprios gastos, e que isso representa mais miséria à frente.
Ficar falando em ajuste fiscal é cair na armadilha da esquerda. É tudo que eles querem! O que a direita deve fazer é simplificar a mensagem da seguinte forma para os mais leigos: o governo agiu como uma família irresponsável, que dá festas inúteis, compra carro novo, gasta com luxo, tudo bancado pelo crediário. Agora chegou a fatura, e em vez de o governo fazer como qualquer família teria de fazer, que é cortar drasticamente suas despesas, ele avança sobre o bolso do trabalhador com mais impostos e produzindo inflação. É isso que está em jogo: ajuste fiscal é apenas uma expressão para corte de gastos após uma farra irresponsável. Diz Monica:
Mais do que isso, se o governo soubesse explicar que, para equilibrar as suas contas, é necessário cortar gastos e que isso pode ter repercussões negativas para algumas famílias no curto prazo, talvez a mentalidade de “populismo econômico” que tomou conta do país (e de alguns economistas) pudesse ser diluída, poupando-nos dos desperdícios vistos nos últimos anos.
Eis o que os conservadores e liberais precisam deixar bem claro para o público em geral: quando a esquerda, de forma populista, ataca a “austeridade” ou o “ajuste fiscal”, o que ela está defendendo, na verdade, é mais inflação. Você está feliz com o preço dos produtos no supermercado? Pois então saiba que isso é resultado direto desses gastos públicos irresponsáveis, que a esquerda defende em nome dos pobres! Falar em “perda do grau de investimento” ou “fuga de capitais” é, novamente, cair na armadilha da esquerda, que fala em compaixão com os pobres e coisas do tipo, tocando o coração das pessoas.
O “ajuste fiscal” é necessário, e calcado em corte de gastos, não em aumento de impostos, porque sem ele teremos mais inflação e desemprego no futuro próximo, e isso pune de forma desproporcional os mais pobres. Ou seja, o governo deve cortar privilégios do setor público, ministérios inúteis, subsídios de grandes empresários e tudo mais para garantir o emprego dos trabalhadores, eis o recado que precisa ser passado de forma clara e objetiva.
O PT usurpou o sonho dos brasileiros com um futuro melhor, e é isso que está em jogo aqui: a direita precisa resgatar esse sonho, oferecer uma agenda positiva que permita a cada um dos trabalhadores uma esperança renovada no amanhã. É por isso que o tal “ajuste fiscal” é necessário, e que ele não tem a menor chance de ocorrer como deveria enquanto um partido populista, sensacionalista e mentiroso como o PT estiver no poder. Para salvar o Brasil e os mais pobres, só mesmo trocando o comando do governo!
Rodrigo Constantino
from Rodrigo Constantino - VEJA.com http://ift.tt/1DStNBG
via IFTTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário