Volto ao tema da terceirização e ao comportamento lamentável do PSDB nesse episódio. Se o partido até está fazendo um esforço para dar combate ao governo quando discorda dele, nesse outro particular, o que se tem é uma crônica lamentável de erros.
Começa que a proposta que excluiu as empresas públicas e mistas da possibilidade de terceirizar também a atividade-fim é dos tucanos. Nesta quarta, o PSDB se uniu aos petistas para adiar a votação do Projeto de Lei 4.330. O pretexto é que é preciso haver mais tempo para entender o conteúdo de pelo menos 30 destaques. A votação ficou para a semana que vem.
Os tucanos, tocados sabe-se lá por quais maus ventos, decidiram dar um cavalo de pau. Antes apoiadores do projeto, passaram, na prática, com algumas exceções, a combatê-lo.
Nada é mais emblemático da perdição em que se meteu o partido nessa questão do que a fala de Carlos Sampaio (SP), líder na Câmara: “Eu revi minha posição. Enquanto o STF não decidir, prefiro ficar do lado dos trabalhadores. (…) Na guerra da comunicação, perdemos. O PT e o governo viram esse tema como a tábua de salvação deles. Se apegaram nessa posição para dizer que estão do lado dos trabalhadores”.
Ele disse isso mesmo? Quer dizer que ele admite, então, que o seu primeiro voto tinha sido contra os trabalhadores? Ele muda de ideia no meio do caminho e decide atribuir a responsabilidade ao adversário? No momento em que o PT perde tudo, até o juízo, Sampaio diz que o partido ganhou a “guerra de propaganda”? Junto a quem? Junto aos sindicatos. Mas essa está ganha desde sempre. O PT só pauta o Brasil, hoje, na cabeça do deputado Carlos Sampaio.
Eis aí um dos exemplos de como não se deve fazer oposição. Não estou demonizando o deputado em particular. Trato da postura. Esse é o PSDB de sempre; esse é o PSDB que perdeu quatro eleições consecutivas; esse é o PSDB que admite ter medo da máquina de desqualificação do PT; esse é o PSDB que quer disputar uma agenda com o PT; esse é o PSDB que tem medo de ir à tribuna e denunciar que só a máquina sindical lucra com o atual estado de coisas; esse é o PSDB que quer ser admirado pelo PT; esse é o PSDB que se nega a construir valores.
Muitas pessoas se perguntam de onde vem tanto poder de Eduardo Cunha. Ainda que seus adversários queiram atribuí-lo a práticas, digamos, extracurriculares, convém considerar: fosse assim, outros poderiam disputar o lugar com ele, até em melhores condições. Eu diria que, em boa parte, o seu protagonismo deriva de ter a coragem de dizer o que pensa e de defender o que defende.
Na hora em que dois valores entraram em confronto numa votação na Câmara — de um lado, uma visão populista, corporativista e atrasada, que só serve a dinossauros sindicais; de outro, uma atualização das relações do mercado de trabalho, mais afinada com o capitalismo moderno —, o PSDB fez o quê? Se abraçou com o PT em defesa do atraso.
É imperdoável e injustificável sob qualquer argumento. Os tucanos, assim, ajudam o PT a pautar a sociedade quando, na verdade, mal se aguenta nas pernas. Até José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, parecia Shopenhauer ontem. O próximo passo do PSDB na Casa será transformar o inefável Sibá Machado (PT-AC) num gênio.
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