Prestes
Augusto Nunes escreveu na Veja desta semana uma ótima resenha da biografia de Luís Carlos Prestes, obra do historiador Daniel Aarão Reis. O título já captura bem a mensagem central: “O perdedor incansável”. Prestes ganhou suas últimas batalhas ainda nos anos 1920, mas chegou a 1990 sem nunca ter mudado de ideia. Como diz Nunes, para muitos essa “teimosia cega” é confundida com “coerência”.
Qual o mérito sem ser “coerente” no equívoco, em jamais aceitar que os fatos novos revelados mudem suas ideias? Tal postura é tudo, menos inteligência. Alguém que foi comunista no começo do século XX pode até ser perdoado por sua ingenuidade, seu romantismo, sua ignorância. Mas alguém continuar pregando o comunismo mesmo depois de Cuba, da União Soviética, do Muro de Berlim, da Guerra Fria?
Caso perdido. Não obstante, a própria esquerda, ou boa parte dela, não consegue fazer o luto de seus “heróis”, reconhecer que não eram justiceiros em busca da liberdade, mas sim turrões autoritários incapazes de acordar para a realidade e enfrentar os fatos. Como admirar, por exemplo, Oscar Niemeyer, que continuou defendendo o açougueiro Stalin até o fim de sua longa vida? Coerência? Então chamemos um psicopata que se nega a parar de matar de “coerente” também…
O que espanta, no Brasil, é a persistência de ideias equivocadas, de utopias nefastas, a sobrevida do próprio comunismo. É verdade que quase ninguém assume mais ser comunista, mas muitos ainda não conseguiram reconhecer aberta e publicamente o que esse regime representa: um rastro de miséria, escravidão e morte. Sempre. Invariavelmente. Inexoravelmente. A história está aí para comprovar.
A nossa esquerda, para amadurecer, terá de confrontar esse passado sombrio de sua origem. Seus heróis não morreram de overdose, como na música de Cazuza, mas de excesso de teimosia, de “coerência” na estupidez. É hora de abandonar esse passado e mirar num futuro democrático, em que a esquerda seja representava por uma social-democracia moderna, que endossa a economia de mercado. Conclui Nunes:
Há, porém, certos “avôs” que é melhor tentar se desvincular. Ou será que um “neto” de Hitler deveria ter orgulho de seu fervor e coerência na luta por seus ideais?
Rodrigo Constantino
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